Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000
AMOSTRAGEM GEOLÓGICA NA PESQUISA MINERAL
Alberto G. Figueiredo Jr. & Isa Brehme
Este artigo descreve o funcionamento e emprego de equipamentos de amostragem de
sedimento ou rocha no fundo marinho com emprego na prospecção mineral. Os
equipamentos são classificados de acordo com suas propriedades de amostragens.
Desenhos e fotos ilustram os equipamentos, enquanto tabelas fornecem suas principais
características.
Palavras chave: Recursos minerais; Equipamentos de amostragem; Equipamentos de
sondagem; Amostradores de sedimento.
GEOLOGICAL SAMPLING IN MINERAL EXPLORATION - This paper describes
the functioning and application of sampling equipments for sediments and rocks of the
ocean bottom used on mineral prospecting. Equipments are classified accordingly to
their sampling properties. Equipments are shown on drawings and photos and tables
give their main characteristics.
Key words: Mineral resources; Sampling equipment; Sediment sampler; Sediment corer.
Universidade Federal Fluminense
Departamento de Geologia/Laboratório de Geologia Marinha - LAGEMAR
Av. Litorânea, s.n., Gragoatá, Niterói, RJ, 24210-340
Telefone e fax: (5521)2719-4241
Email: alberto@igeo.uff.br, www.igeo.uff.br/lagemar
Received August 24, 2001 / Accepted December 05, 2001
INTRODUÇÃO
A investigação do fundo oceânico para
prospecção de bens minerais pode ser realizada
de forma direta ou indireta. As formas indiretas
são aquelas com as quais pode-se obter
informações do fundo marinho sem, no entanto
ter em mãos amostra do material, como por
exemplo, a sísmica, a sonografia e batimetria.
Tendo em vista que os métodos indiretos são mais
expeditos e podem cobrir grandes áreas em
pouco tempo, estes, de maneira geral, são os
primeiros a serem aplicados e servem para
orientação da amostragem geológica que por sua
vez é um método direto de investigação do fundo
marinho.
A amostragem geológica do fundo marinho
a primeira vista parece trivial, mas quando
considerados os diversos fatores que podem
influenciar uma amostragem, incluindo
profundidade, velocidade de correntes de fundo,
estado do mar e natureza do fundo, é fundamental
a adoção de equipamentos apropriados. Além
desses fatores, é importante que a amostra seja
representativa. Ao longo do tempo os
equipamentos de amostragem geológica vem sendo
desenvolvidos e aperfeiçoados visando atender
estas questões. Uma das técnicas originais de
amostragem de fundo denominada tensa consistia
em um peso com uma área preenchida por sabão
que ao tocar o fundo grudava o sedimento. É fácil
imaginar que, ao ser erguido do fundo oceânico
até a embarcação, a amostra era lavada e parte
do sedimento perdida, assim a representatividade
não podia ser considerada.
Junto com o desenvolvimento dos
equipamentos, foram também desenvolvidos cabos
de aço de grande resistência e leveza que permitem
atingir profundidades de até 6.000 metros. Alguns
desses cabos atualmente são trançados junto com
270 Amostragem Geológica na Pesquisa Mineral
Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 18(3), 2000
cabos elétricos e de fibra ótica, possibilitando, por
exemplo, fotografar o fundo ou mesmo inspecionar e
direcionar o amostrador antes da amostragem. A
grande maioria dos equipamentos foi desenvolvida
pelos próprios cientistas que os utilizavam e por esta
razão é comum o equipamento ter o nome de seus
inventores.
Além da questão do volume e da
representatividade da amostra, uma das áreas que
começa a ser tratada por aqueles que querem entender
com mais detalhe o ambiente marinho, é a questão de
análise do dado in situ. Sabemos que a pressão
hidrostática, temperatura ambiente, velocidades de
correntes e uma série de outros fatores podem ter
influência nas análises. Assim, por exemplo, medidas
geotécnicas, medidas geofísicas, consumo de oxigênio
e trocas iônicas entre a coluna d’água e o sedimento,
já tem sido realizadas no sedimento quando ainda no
fundo marinho.
Os recursos minerais marinhos podem ocorrer
distribuídos em superfície ou sub-superfície e a
avaliação dos depósitos depende do emprego de
amostradores que possam fazer amostragens
representativas.
Este artigo não tem pretensão de cobrir todos
os equipamentos de amostragem de fundo existentes,
por serem numerosos e estarem em constante
desenvolvimento. Serão tratados os equipamentos
mais usuais para avaliação do potencial mineral e
aqueles que representam avanço tecnológico na
amostragem e coleta de dados do fundo marinho em
sedimentos não consolidados. As amostragens com
perfuração de sondas rotativa para hidrocarbonetos
não serão tratadas neste artigo.
AMOSTRAGEM DE FUNDO
A amostragem de fundo é realizada com o
propósito de definir a natureza do fundo, a quantidade
de minerais ou realizar análises de detalhe. Portanto
é fundamental que a amostra seja integral e
representativa para que os resultados das análises
sejam válidos.
A definição dos pontos de amostragens deve
levar em conta além do espaçamento entre amostras,
se possível os dados de batimetria, sísmica rasa de
alta definição e imagens de sonar. Estes dados
indiretos permitem uma avaliação da variabilidade da
topografia, da natureza do fundo e da existência de
trapas em sub-fundo, dando subsídios a uma melhor
definição de onde realizar amostragem, além de
informação sobre até onde se estende o domínio
daquela determinada litogia ou concentração mineral.
Outros dados indispensáveis são posicionamento
geográfico, profundidade, dia, hora, equipamento
coletor e uma breve descrição da amostra e das
condições de amostragens. Todas estas informações
devem estar contidas em uma ficha a ser preenchida
no momento da coleta para facilitar o processamento
do dado e esclarecer dúvidas futuras caso existam.
Há uma variedade enorme de fichas e cada uma
apropriada para um determinado tipo de equipamento.
TIPOS DE AMOSTRADORES
Para facilitar a visualização dos tipos de
equipamentos e suas aplicações, foi elaborada uma
classificação dos diversos tipos de amostradores de
fundo conforme indicado naTtabela 1.
São classificadas como superficiais as
amostragens que não passam de 30 cm de
profundidade e englobam os equipamentos tipo
busca-fundo e dragas de arrasto. Estas amostragens
por sua vez podem ser classificadas em amostras
pontuais que compreendem uma área amostrada
aproximadamente do tamanho do equipamento
enquanto que as amostras não pontuais são aquelas
em que o equipamento é arrastado no fundo por uma
determinada distância e os sedimentos coletados
podem representar mais de uma fácies sedimentar.
Um resumo de suas principais características está na
Tabela 2
As amostragens sub-superficiais envolvem a
coleta de sedimentos desde a superfície do fundo
marinho até dezenas de metros e para isto são
empregados as amostradores caixa e os
testemunhadores. As principais características dos
testemunhadores estão resumidas naTabela 3.
A seguir são apresentados os principais
equipamentos utilizados em amostragem de fundo, os
quais têm sido reproduzidos ao longo do tempo em
diversos países, em diferentes tamanhos e com
adaptações. As características aqui apontadas são,
portanto genéricas para aquele tipo de equipamento.
A. G. Figueiredo Jr. & I. Brehme 271
Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000
AMOSTRADORES SUPERFICIAIS NÃO
PONTUAIS
Os amostradores não pontuais são aqueles que
são arrastados no fundo marinhos por uma
determinada distância coletando material do fundo
(Zembruscki & Felipe1978). Caso haja uma variação
de fácies o amostrador irá coletar uma amostra
composta. Normalmente este tipo de amostrador é
utilizado para fornecer uma informação que não
necessite muita precisão dos dados e sua aplicação é
usual na coleta de sedimento, dragagem de rochas,
nos estudos de levantamento expeditos e de biota de
fundo. A estes amostradores é aplicado o nome de
draga cujos principais representantes são draga de
Gibbs, draga de correntes e draga biológica (Fig 1).
Draga de Gibbs.
Trata-se de um dos instrumentos mais simples
para amostragem e, todavia bem eficaz. É constituída
por um tubo de metal com diâmetro variável, onde
em uma das extremidades está preso um saco de
tecido para recolher a amostra e na outra, que tem a
borda cortante, é fixo o cabo de arrasto (Fig. 1a).
Para se fazer uma dragagem com um ângulo de arrasto
suficiente para não levantar inadvertidamente o
equipamento do fundo, é importante que o
comprimento do cabo seja pelo menos 2,5 vezes a
profundidade. Após alguns minutos de arrasto o
equipamento é içado a bordo e o sedimento recolhido
do saco. Dependendo de sua dimensão, este
equipamento pode ser manuseado manualmente de
uma pequena embarcação. Quando utilizado em águas
mais profundas, deve ser dimensionado com mais
peso e caso necessário, pesos adicionais podem ser
colocados no cabo de reboque avante da draga. Um
dos problemas deste equipamento é o efeito de
lavagem do sedimento durante o resgate e outro
problema é a coleta de sedimento misturado caso o
equipamento se arraste sobre mais de uma fácies
sedimentar.
Draga retangular ou draga biológica.
A draga retangular ou também chamada biológica
tem um formato retangular com uma borda cortante e
seu corpo formado por uma armação de metal com
tela (Fig. 1b). O seu interior é revestido por um tecido
para armazenar o sedimento. O seu arrasto é feito
por duas hastes flexionadas por dobradiças presas à
borda cortante. As hastes são presas duas pontas de
cabo que se unem ao cabo principal. Da mesma forma
que na draga Gibbs para se fazer uma dragagem sem
levantar inadvertidamente o equipamento do fundo, é
importante que o comprimento do cabo seja pelo
menos 2,5 vezes a profundidade.
É comum a perda de equipamentos de arrasto
de fundo quando estes se prendem a obstáculos de
fundo. Para diminuir esta perda das dragas, uma das
pontas do cabo é ligado a haste com um elo de
segurança que se rompe no caso de muita tensão. O
rompimento de apenas uma ponta de tração fará com
que a draga rodopie em volta do obstáculo de fundo
libertando-se. Para atingir maiores profundidades
pesos adicionais podem ser colocados no cabo a
vante da draga.
Draga de rochas
A draga de rocha ou draga de corrente é utilizada
para dragar rochas de formações rochosas da
cordilheira mesoceânica, platôs e montes submarinos.
Por se tratar de uma draga que sofre alto impacto
com o fundo e com grande chance de perda, ela deve
ser de material bem resistente e de baixo custo. O
formato mais comum deste tipo de draga tem uma
boca retangular de bordas cortantes e algumas vezes
providas de dentes que ajudam a arrancar parte da
rocha. A parte posterior que abriga a amostra é
normalmente feita de uma malha de correntes. Da
mesma forma que nas outras operações de dragagem,
o comprimento do cabo lançado ao mar deve ser de
2,5 vezes a profundidade. Por se tratar de uma
amostragem que colocará muita tensão no cabo de
arrasto, é importante que os operadores se mantenham
alerta e as áreas de risco livres. Uma fotografia de
uma draga de rochas é apresentado na 1c.
AMOSTRADORES SUPERFICIAIS
PONTUAIS
Os amostradores pontuais de superfície ou
busca-fundo (Fig. 2) são geralmente equipamentos
272 Amostragem Geológica na Pesquisa Mineral
Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 18(3), 2000
Tabela 1 - Classificação dos amostradores de fundo segundo suas características de amostragem.
Tabela 2 - Características principais dos amostradores de fundo tipo dragas e busca fundo
Tabela 3 - Características principais dos testemunhadores.
A. G. Figueiredo Jr. & I. Brehme 273
Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000
Figura 1 - Dragas: a - Draga Gibbs; b - Draga retangular; c - Draga de rochas.
leves, podendo ser utilizados em embarcações
pequenas, e permitem rapidez entre uma amostragem
e outra. Junto com a geofísica eles são ideais para
conhecer o fundo antes de enviar equipamentos que
demandem mais tempo de operação e que sejam mais
valiosos como, por exemplo, um testemunhador ou
um amostrador caixa em embarcações de maior porte.
Dentre os amostradores pontuais somente o Phipps
e Skoopfish são utilizados com a embarcação em
movimento.
Phipps
Este é um amostrador superficial pontual que é
utilizado com o barco ou navio em movimento (Ellis
1973, Kowsman et al. 1983). Ele tem o formato de
um tubo tendo em um lado uma borda cortante e no
outro um saco de tecido para armazenar o sedimento
(Fig. 2a). O tubo tem um sistema de tração reversível
em que, para descer ao fundo, com o navio em
movimento, o equipamento é tracionado por um ponto
na parte posterior e, auxiliado por aletas também na
parte posterior, o equipamento é direcionando ao
fundo. Ao tocar o fundo rompe-se um elo de barbante
que prende o cabo de tração a parte posterior e o
equipamento passa a ser rebocado pela parte dianteira
e assim com tendência a subir. Uma das desvantagens
deste equipamento é o processo de lavagem que a
amostra sofre durante a recuperação do equipamento.
O equipamento é utilizado com freqüência junto com
a perfilagem de sonar de varredura lateral, permitindo
que o fundo seja amostrado sem interromper a
navegação com o navio a 3 ou 4 nós de velocidade.
Os resultados são uma ajuda na interpretação dos
registros.
Skoopfish
É um equipamento semelhante em forma e
funcionamento ao amostrador Phipps. Possui, porém
uma placa articulada que fecha a extremidade aberta
após o equipamento tocar o fundo (Emery &
Champion 1948). O recipiente na extremidade
dianteira de 4 cm de diâmetro, tem capacidade de
amostragem de 75 cm3 e é facilmente introduzido e
removido com a amostra para posterior análise.
Funciona muito bem em profundidades de até 200 m
com a embarcação em movimento. Na figura 2b pode
ser visto o equipamento e o tubo de coleta.
Dietz-La Fond
É um equipamento prático de pequeno porte
para ser utilizado em pequenas profundidades incluindo
rios, lagos e plataforma continental (La Fond & Dietz
1948). Ele tem uma estrutura alongada com duas
conchas na base e uma aleta verticalizadora na parte
posterior (Fig. 2c). As conchas que abocanham o
sedimento são impulsionadas por um peso que desliza
ao longo de um cursor. O equipamento desce ao
fundo com as conchas abertas e travadas por uma
barra transversal, que assim que toca o fundo, libera
as conchas para abocanhar o fundo.
Shipeck
É um busca-fundo com um volume e peso maior
que do Dietz-La Fond e princípio de funcionamento
diferente. O Shipeck tem um formato de um
semicilindro e seu sistema de fechamento é acionado
por uma poderosa mola de aço (Fig. 2d). Quando
armado para descer ao fundo o Shipeck tem forma
274 Amostragem Geológica na Pesquisa Mineral
Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 18(3), 2000
de um semicilindro armazenado dentro da estrutura
do equipamento. Assim que toca o fundo um peso na
parte superior do equipamento desliza por um cursor,
bate em uma trava que libera o semicilindro interno
que é impulsionado pela mola. O semicilindro corta o
sedimento e armazena-o dentro do equipamento.
Uma característica importante deste equipamento
é que, dependendo do tipo de sedimento, a superfície
do sedimento pode ser preservada. Outra
característica importante é que o semicilindro pode
ser substituído por outro limpo enquanto aquele com
sedimento é processado e assim ganha-se tempo na
amostragem. O fato de o Shipeck ter uma mola muito
forte faz com que sedimentos semiconsolidados e
crostas possam também ser amostrados. Devido a
esta mola forte deve ser manuseado com cuidado.
van Veen
É um equipamento de funcionamento simples,
robusto que, dependendo de seu tamanho, pode
pegar grande volume de sedimentos. Ele é constituído
de duas conchas articuladas por uma dobradiça
através de duas barras cruzadas presas ao cabo de
aço que vai até a embarcação (Fig. 2e). As conchas
se mantêm abertas por um sistema de trava que é
liberado assim que o equipamento toca o fundo. O
recolhimento do cabo faz com que as conchas se
fechem apanhando o sedimento. Por não ter vedação
perfeita, pode ocorrer lavagem de amostra.
Ekman
É um equipamento em formato de caixa,
semelhante ao amostrador caixa descritas a seguir com
a diferença no sistema de fechamento e acesso ao
sedimento amostrado. O amostrador de Ekman (Fig.
2f) desce ao fundo com as tampas superiores e
também as duas mandíbulas em forma de segmento
de cilindro aberto. Assim que equipamento toca o
fundo é liberada a tensão que prende uma trava na
parte superior do equipamento e as mandíbulas são
impulsionadas por duas potentes molas de aço além
das tampas superiores serem fechadas. Uma das
vantagens deste amostrador é que a superfície de
interface água-sedimento é preservada e assim pode
ser observada e sub-amostrada.
AMOSTRADORES PONTUAIS DE SUBSUPERFÍCIE
Os amostradores pontuais de sub-superfície
são aqueles que amostram desde a interface águasedimento
de fundo até dezenas de metros. São
equipamentos mais pesados e têm como principal
propriedade preservar a estratigrafia dos sedimentos.
Dentro desta classificação de sub-superficiais temos
duas categorias, os amostradores caixa que
recuperam um bloco de sedimento de pequeno
comprimento (Fig. 2g, h, I) e os testemunhadores que
podem recuperar longas seções de sedimento (Fig.
3). Os testemunhadores por sua vez podem ser
divididos em “com pistão” e “sem pistão”, usualmente
também chamado de testemunhador a “gravidade”.
Duas outras classes de testemunhadores são os
testemunhadores com “vibrador” e testemunhadores
com “martelete de impacto”. As principais
características estão resumidas na tabela 3.
Caixa amostradora
A caixa amostradora, do inglês box-corer, foi
desenvolvida de forma a ser possível amostrar um
bloco de sedimentos que pudesse posteriormente ser
secionado em diversas direções. Ela foi desenvolvida
por Reineck (1963) para o estudo de estruturas
primárias e biológicas nos sedimentos do Mar do
Norte e hoje tem um emprego universal desde as
regiões inter-marés até o oceano profundo.
A caixa amostradora tem formato de uma caixa
que é inserida em uma estrutura alongada e tem um
braço articulado com uma lâmina que fecha a base
no momento de retirada da mesma do fundo. A
estrutura do equipamento possui também uma
armação a sua volta que serve para garantir a
verticalização da caixa amostradora ao tocar o fundo
(Fig. 2g). A caixa amostradora desce ao fundo com
a tampa superior e a lâmina de fechamento aberta até
que o equipamento se enterrar no sedimento. Neste
momento fecha-se a tampa superior e a medida que
o equipamento é içado, o braço articulado gira em
torno de um pivô e a lâmina de fechamento corta o
sedimento até fechar totalmente a base da caixa. Uma
vez a bordo, a caixa amostradora é retirada da
A. G. Figueiredo Jr. & I. Brehme 275
Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000
Figura 2 – Busca-fundo
a - Amostrador Phipps; b - Amostrador Skoopfish; c- Amopstrador Dietz-La Fond; d - Amostrador Shipeck; e - Amostrador van Veen;
f - Amostrador Ekman; g - Amostrador caixa; h - Amostrador multi-caixa; i - Amostrador multi-testemunhador.
276 Amostragem Geológica na Pesquisa Mineral
Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 18(3), 2000
Figura 3 - Testemunhadores
a - Testemunhador Phleger; b - Testemunhador a gravidade; c - Esquema das partes de um testemunhador a gravidade; d -
Testemunhador de queda livre; e - Testemunhador caixa; f - Lançamento de um testemunhador a pistão; g - Esquema de funcionamento
de um testemunhador a pistão; h - Testemunhador a vibração em ação em águas rasas; i - Testemunhador a vibração submersível; j -
Testemunhador a percussão Alpine.
A. G. Figueiredo Jr. & I. Brehme 277
Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000
estrutura e iniciam-se os procedimentos de subamostragem.
Uma das vantagens da caixa
amostradora é que uma das laterais da caixa pode
ser removida e assim o bloco de sedimento pode ser
secionado em diversas direções e intervalos.
Multi-amostradores
O sistema do amostrador caixa é utilizado em
amostragem múltipla com caixas amostradoras
estreitas arranjadas em círculo, permitindo a
amostragem de uma área maior (Fig. 2h). O
equipamento tem bom funcionamento em sedimentos
lamosos a arenosos em qualquer profundidade, mas
devido ao tamanho do equipamento, necessita de
navio com guincho. O mesmo acontece com o multitestemunhador
(multi-corer), onde em lugar de caixas
são utilizados tubos de PVC ou acrílico de 1 m de
comprimento com dispositivos de fechamento dos
topos e das bases dos tubos (Fig. 2i). Os tubos
descem ao fundo projetados à frente da estrutura,
com a tampa superior aberta, bem como a inferior
que é articulada por um braço móvel. Ao penetrar no
sedimento as tampas superiores são fechadas por uma
mola, enquanto as tampas inferiores cortam o
sedimento até chegarem a base dos tubos. Devido à
espessura da tampa da base o multi-testemunhador
só trabalha bem em sedimentos lamosos
inconsolidados. Também neste amostrador a
preservação tanto da água como da interface
sedimento-água é excelente. Após a retirada dos
tubos da estrutura, estes são colocados em um suporte
que viabilize a saída do sedimento pelo topo, à medida
que o tubo de acrílico é abaixado. Este sistema permite
a sub-amostragem do sedimento, fatiando-o em
camadas centimétricas e com isto a obtenção de uma
estratigrafia detalhada. Outro ponto interessante deste
sistema é a disponibilidade de diversas amostras
semelhantes, o que possibilita a correlação entre
diversos tipos de análises.
TESTEMUNHADOR À GRAVIDADE
Os testemunhadores à gravidade são os
dispositivos mais simples dentre os testemunhadores.
O testemunhador Phleger (Fig. 3a), hoje ainda
utilizado como peso piloto em testemunadores a
pistão, é um testemunhador pequeno e prático para
obter testemunhos curtos até manualmente de
embarcações pequenas. Constitui-se de um tubo com
um peso na parte posterior onde se prende o cabo
de sustentação e uma ponta cortante que penetra no
sedimento. Na parte interna possui um tubo de PVC
de 2,5 a 6,5 cm de diâmetro com um dispositivo de
lâminas na extremidade inferior que impedem a perda
do material amostrado.
Com o tempo este pequeno testemunhador foi
melhorado (Fig. 3b). O tubo, normalmente chamado
de barrilete, pode ser de aço ou PVC rígido com
diâmetro usualmente de 7,5 ou 11 cm e em seções
conectáveis de 3 m de comprimento. Quando se utiliza
o barrilete de aço, normalmente se utiliza um tubo
interno de PVC para armazenar o sedimento. Na
parte superior o peso de 1,5 toneladas ajuda na
penetração. Alguns destes testemunhadores possuem
uma válvula na parte superior do tubo e outra na parte
inferior. A válvula no topo evita a entrada de água e
assim a lavagem do sedimento, enquanto a válvula
inferior, chamada de “válvula retentora” ou “aranha”
impede a saída do sedimento durante a retirada do
fundo. Uma das partes importantes do testemunhador
é o cortador que vai preso na ponta do tubo (Fig.
3c). Este cortador deve ser dimensionado para ter
um perfil que cause o menor atrito possível durante a
penetração no sedimento e assim permita uma boa
penetração com bastante recuperação. Este tipo de
testemunhador é usualmente descido ao fundo com o
guincho sob controle a 1 – 1,5 m/s. Quando faltam
poucos metros o guincho pode ser totalmente liberado
para que com a descida mais rápida haja maior
penetração. Também pode ser utilizado um sistema
de alavanca (Hvorslev & Stetson, 1946) que consiste
de um braço disparador que funciona em um sistema
de equilíbrio baseado em um binário de forças onde
o testemunhador é preso pela alça no braço menor
enquanto o peso disparador ou peso piloto é preso
no braço maior. Desta forma, o testemunhador que
pode pesar até 1 tonelada é equilibrado por um peso
de 100 kg. Para a operação de testemunhagem, o
cabo que vem do guincho é passado no braço
disparador que prende o cabo e ao mesmo tempo
sustenta o testemunhador por uma alça. Após a
passagem pelo braço disparador o cabo forma um
seio que corresponde ao tamanho da queda livre e é
278 Amostragem Geológica na Pesquisa Mineral
Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 18(3), 2000
fixo na alça do testemunhador. Tendo em vista que o
cabo que prende o peso piloto é maior que o
comprimento do testemunhador, este segue na frente
e tocará o fundo primeiro. Ao tocar o fundo o binário
de força é desequilibrado e o testemunhador é liberado
e cai em queda livre penetrando no sedimento.
O testemunhador sem cabo nem guincho é um
equipamento de testemunhagem à gravidade com
queda livre (Moore, 1961). Ele consiste de um tubo
leve, fixado em dispositivos flutuantes e que vai ao
fundo marinho dentro de um envoltório pesado,
descartável (Fig. 3d). É lançado livre na água e
impulsionado pelo seu peso penetra no fundo. O tubo
com os flutuadores é liberado em seguida e volta à
superfície da água com os sedimentos recuperados.
É um sistema prático para coleta rápida de
testemunhos curtos em águas rasas.
TESTEMUNHADOR CAIXA
O testemunhador caixa (kasten corer) é um
testemunhador a gravidade de seção quadrada de 30
x 30 cm de 3 m ou mais de comprimento feito em aço
inox (Fig. 3e). Na parte posterior são colocadas
diversas placas de chumbo para dar peso suficiente
para a penetração do testemunhador no sedimento.
Na parte anterior é colocada uma ponteira com
bordas cortantes e internamente uma válvula que
permite a entrada do sedimento, mas impede sua
saída. Durante a coleta, para a verticalização do
testemunhador é colocado um peso guia próximo a
parte anterior preso por dois cabos à parte posterior.
A medida que o testemunhador penetra no sedimento
este peso permanece na superfície. Uma das
características deste testemunhador é que a seção
quadrada é formada por uma parte em perfil “U” e a
outra uma tampa que é aparafusada no perfil em “U”.
Após a coleta do testemunho esta tampa é retirada
permitindo o acesso à seção completa do testemunho
para sub-amostragens, fotografias e outros estudos.
TESTEMUNHADORES À PISTÃO
O testemunhador com pistão, inventado por
Kullenberg (1947) (Fig. 3f) é sempre utilizado com o
sistema de alavanca disparadora para propiciar queda
livre. Os testemunhadores com pistão são muito
semelhantes aos testemunhadores à gravidade
possuem, porém um pistão que corre dentro do tubo
de PVC e que tem a função de impedir fricção severa
e encurtamento da seção sedimentar. Durante a
operação de testemunhagem este pistão fica logo após
a válvula retentora até que o seio de cabo na alavanca
disparadora seja totalmente desfeito e isto
corresponde ao momento que o cortador toca o
fundo. A partir daí, o testemunhador penetra no
sedimento enquanto o pistão mantém-se estático. A
figura 3g ilustra o funcionamento do testemunhador
com pistão. Um problema que ocorre neste tipo de
testemunhagem é quando o testemunhador não é
preenchido completamente com sedimentos. Quando
o testemunhador é içado pelo pistão o sedimento pode
ser sugado para cima ou pode ocorrer implosão do
tubo interno. Procurou-se contornar este problema
utilizando um pistão rompível em que uma parte
permanece sobre o sedimento e a outra superior iça
o testemunhador.
Silva & Hollister (1973) desenvolveram um
testemunhador a pistão gigante com diâmetro de 14
cm (11,5 tubo interno) e peso de 5 toneladas que
pode recuperar 20-40 m de sedimentos. Devido as
suas dimensões só pode ser utilizado em navios
maiores com guincho adequado.
Atualmente o testemunhador com pistão é
utilizado principalmente em sedimentos lamosos
inconsolidados, enquanto o testemunhados à
gravidade tem uma recuperação melhor em
sedimentos arenosos ou endurecidos.
TESTEMUNHADORES À VIBRAÇÃO
Os testemunhadores a vibração baseiam-se no
princípio da liquefação do sedimento pela
vibração(Lanesky et al., 1979). O vibrador mais
comum é o utilizado em construções civis para
liquefazer o concreto para a expulsão das bolhas de
ar e constitui-se de um motor a gasolina, ligado ao
um cabo coaxial que tem um eixo excêntrico na ponta.
Esta ponta, que é a parte vibrante, deve ser firmemente
presa ao testemunhador e este por sua vez tem que
ser de metal para melhor conduzir as vibrações. Ao
vibrar o tubo liquefaz o sedimento a sua volta
permitindo que o tubo penetre no sedimento com
facilidade. Os tubos mais freqüentemente utilizados
A. G. Figueiredo Jr. & I. Brehme 279
Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000
tem sido os de alumínio com diâmetro de 7.5 cm,
parede com 2 mm de espessura e 9 m de
comprimento. Este testemunhador a vibração é
montado em uma torre de sustentação e pode ser
utilizado em terra, em água rasa (Fig. 3h) e até em
mar profundo (Fig. 3i).
TESTEMUNHADORES A PERCUSSÃO
Os testemunhadores à percussão são acionados
por impactos de alta freqüência sobre o tubo que
penetra no solo. Este sistema pode tanto funcionar
no fundo marinho bem como fora d’água e em ambos
os casos o testemunhador é sustentado na vertical
por uma torre. A percussão na parte posterior do
tubo pode ser produzida por martelete acionado por
ar comprimido. O tubo deve ser resistente e de parede
fina para que o atrito com o sedimento seja o menor
possível. A utilização de um cortador na base pode
facilitar a penetração e uma válvula retentora deve
ser utilizada em sedimentos com muita água. Também
este testemunhador pode ser utilizado submerso ou
fora d’água. A figura 2j apresenta o testemunhador a
percussão Alpine.
AMOSTRADORES DE SEDIMENTO EM
SUSPENSÃO
Os amostradores de sedimento em suspensão
chamados de “armadilhas de sedimento” foram
desenhados para capturar o sedimento em suspensão.
Existem dois tipos básicos: um deles mais simples,
“armadilha tubular de sedimento”, que captura todo
o sedimento sem separar o período de amostragem e
a “armadilha temporizada de sedimento” que captura
o sedimento por período de tempo e o armazena
separadamente. As principais características destes
amostradores estão resumidas na tabela 4.
A armadilha tubular de sedimentos é constituída
de uma estrutura simples onde um tubo de PVC com
uma das extremidades fechada é enterrado no
sedimento. A outra extremidade fica aberta e coleta
o sedimento que desce na coluna d’água. Existem
também tubos que tem aberturas nas laterais para
captura de sedimentos que estejam sendo
transportados por correntes. Caso queira se amostrar
sedimento de tração de fundo, o tubo deve ser
enterrado até que sua borda fique próxima da
superfície do sedimento.
A armadilha temporizada de sedimento tem
forma de um funil com 1 metro de boca e 2 de altura.
Na sua base são colocados uma série de frascos (12
- 24) em um tambor que gira a um tempo prédeterminado.
Estas armadilhas são geralmente
utilizadas em oceano profundo e podem ficar até 3
anos no fundo antes de serem recuperadas. Para que
haja conservação da matéria orgânica que cai na
armadilha, os frascos contêm uma solução
conservante. Normalmente este tipo de armadilha é
colocada em série a diversas profundidades da coluna
d’água e seguras por um cabo que pode ser liberado
do fundo por meio de ondas acústicas. Uma outra
forma de utilizar estas armadilhas é colocando-as à
deriva acompanhadas por um barco ou por
rastreamento com satélite. Os dados das armadilhas
servem para avaliar a razão de sedimentação.
AMOSTRADORES DE DADOS in situ
Diversas medidas realizadas em laboratório
divergem das medidas realizadas in situ em função
de parâmetros que dependem da pressão hidrostática,
da preservação do arranjo das camadas e não
perturbação da biota. Recentemente, com o objetivo
de manter as condições ambientais e termos medidas
próximas das condições reais, diversos equipamentos
foram desenvolvidos para realizarem medidas in situ.
Entre os equipamentos mais comuns estão aqueles
que realizam medidas de velocidade da onda acústica
no sedimento, medidas geotécnicas e medidas de
consumo de oxigênio pela biota. As medidas de
velocidade do som e geotécnicas são realizadas com
uma sonda com diversos sensores que são enterrados
no fundo marinho e sendo os dados armazenados em
Tabela 4 - Características principais dos amostradores de sedimento em suspensão.
280 Amostragem Geológica na Pesquisa Mineral
Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 18(3), 2000
memória no próprio equipamento(Davis, 1996, Davis,
et al., 1996). As medidas biológicas são realizadas
dentro de uma câmara enterrada no sedimento para
isolar o meio circundante. Dentro da câmara, medidas
são feitas com micro-sondas para determinar o
consumo de oxigênio e temperatura, à medida que o
tempo passa e a diversas alturas do fundo e também
dentro do sedimento (Glud, et al., 1995).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A amostragem do fundo marinho envolve
desafios e criatividade e quando é realizada com
sucesso, a amostra representa o início de um processo.
“Dê-me uma amostra do fundo oceânico e eu lhe
contarei sua história”. Esta é uma frase que revela a
importância da amostragem geológica e o espírito
investigativo que devemos ter a partir da sua análise.
A amostragem geológica do fundo marinho
permite o contato direto entre o investigador e o
sedimento de fundo, possibilitando uma análise
detalhada de diversos parâmetros. Todavia é
fundamental que o equipamento de amostragem seja
apropriado para o tipo de sedimento e análise que se
pretende realizar. Além disso, a amostra deve ser
representativa do depósito sob investigação.
REFERÊNCIAS
DAVIS, A.M., 1996. Geophysics in offshore site
investigation: a review of the state of the art. In:
Geology of Siliciclastic Shelf Seas (Eds. De Batist,
M. & Jacobs, P.) Geological Society Special
Publication v. 117, p. 323-338.
DAVIS, A.M., HUWS, D.G. & HAYNES, R.,
1996. Geophysical ground-truthing experiments
in Eckernförde Bay. Geo-marine Letters, v. 16,
p. 160-166.
ELLIS, J. P., 1973. Report on a new underway
sediment sampler. Woods Hole, Mass. WHOI,
30 pp.
EMERY, K. O. & CHAMPION, A. R., 1948.
Underway bottom sampler. Jour. Sed. Petrology,
v. 18, p. 30-33.
GLUD, R.N.; GUNDERSEN, J.K.;
REVSBECH, N.P.; JØRGENSEN, B.B.;
HÜTTEL, M., 1995. Calibration and
performance of the stirred flux chamber from the
benthic lander ELINOR. Deep-Sea Res., v. 42,
p. 1029-1042.
HVORSLEV, M. J. & STETSON, H. C., 1946.
Free-fall coring tube; a new gravity bottom
sampler. Bull. Geol. Soc. Amer., v. 57, p. 935-
950.
KOWSMANN, R. O., COSTA, M. P. A.,
PALMA, J. J. C., VICALVI, M. A., 1983.
Métodos de coleta e análise de sedimentos
inconsolidados. In: Chaves, H A F (ed.) –
Processos e métodos (relatório final) Série Projeto
REMAC, n. 6, p. 63-76.
KULLENBERG. B., 1947. The piston corer
sampler. Svenska Hydrog. Biol. Komm. Skr. S.
3, Bd. 1, H. 2, 46pp.
LA FOND, E. C. & DIETZ, R. S.,1948. New
snapper type sea floor sampler. Jour. Sed.
Petrology, v. 18, p.34-37.
LANESKY, D.E., LOGAN, B.W., BROWN,
R.G. & RINE, A.C., 1979. A new approach to
portable vibracoring underwater and on land. Jour.
Sed. Petrology, v. 48, p. 654-657.
MOORE, D.G., 1961. The free-corer; sediment
sampling without wire and winch. Jour. Sed.
Petrology. v. 31; n. 4, p. 627-630.
REINECK, H. E., 1963. Der Kastengreifer. Natur
und Museum v. 93, p. 65-68.
SILVA, A. & HOLLISTER, C. D., 1973.
Geotechnical properties of ocean sediments
recovered with Giant Piston corer, in Gulf of
Maine. J. Geophys. Res., v. 78, p. 3597-3616.
ZEMBRUSCKI, S.G. & FELIPE, J. R. C., 1978.
Técnicas de dragagem no Cruzeiro Platôs
Marginais do Nordeste Brasileiro. Bol. Téc.
Petrobrás, Rio de Janeiro, v. 21, no. 3, p. 201-
234.
NOTE ABOUT THE AUTHORS
Ver página 326
AMOSTRAGEM GEOLÓGICA NA PESQUISA MINERAL
Alberto G. Figueiredo Jr. & Isa Brehme
Este artigo descreve o funcionamento e emprego de equipamentos de amostragem de
sedimento ou rocha no fundo marinho com emprego na prospecção mineral. Os
equipamentos são classificados de acordo com suas propriedades de amostragens.
Desenhos e fotos ilustram os equipamentos, enquanto tabelas fornecem suas principais
características.
Palavras chave: Recursos minerais; Equipamentos de amostragem; Equipamentos de
sondagem; Amostradores de sedimento.
GEOLOGICAL SAMPLING IN MINERAL EXPLORATION - This paper describes
the functioning and application of sampling equipments for sediments and rocks of the
ocean bottom used on mineral prospecting. Equipments are classified accordingly to
their sampling properties. Equipments are shown on drawings and photos and tables
give their main characteristics.
Key words: Mineral resources; Sampling equipment; Sediment sampler; Sediment corer.
Universidade Federal Fluminense
Departamento de Geologia/Laboratório de Geologia Marinha - LAGEMAR
Av. Litorânea, s.n., Gragoatá, Niterói, RJ, 24210-340
Telefone e fax: (5521)2719-4241
Email: alberto@igeo.uff.br, www.igeo.uff.br/lagemar
Received August 24, 2001 / Accepted December 05, 2001
INTRODUÇÃO
A investigação do fundo oceânico para
prospecção de bens minerais pode ser realizada
de forma direta ou indireta. As formas indiretas
são aquelas com as quais pode-se obter
informações do fundo marinho sem, no entanto
ter em mãos amostra do material, como por
exemplo, a sísmica, a sonografia e batimetria.
Tendo em vista que os métodos indiretos são mais
expeditos e podem cobrir grandes áreas em
pouco tempo, estes, de maneira geral, são os
primeiros a serem aplicados e servem para
orientação da amostragem geológica que por sua
vez é um método direto de investigação do fundo
marinho.
A amostragem geológica do fundo marinho
a primeira vista parece trivial, mas quando
considerados os diversos fatores que podem
influenciar uma amostragem, incluindo
profundidade, velocidade de correntes de fundo,
estado do mar e natureza do fundo, é fundamental
a adoção de equipamentos apropriados. Além
desses fatores, é importante que a amostra seja
representativa. Ao longo do tempo os
equipamentos de amostragem geológica vem sendo
desenvolvidos e aperfeiçoados visando atender
estas questões. Uma das técnicas originais de
amostragem de fundo denominada tensa consistia
em um peso com uma área preenchida por sabão
que ao tocar o fundo grudava o sedimento. É fácil
imaginar que, ao ser erguido do fundo oceânico
até a embarcação, a amostra era lavada e parte
do sedimento perdida, assim a representatividade
não podia ser considerada.
Junto com o desenvolvimento dos
equipamentos, foram também desenvolvidos cabos
de aço de grande resistência e leveza que permitem
atingir profundidades de até 6.000 metros. Alguns
desses cabos atualmente são trançados junto com
270 Amostragem Geológica na Pesquisa Mineral
Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 18(3), 2000
cabos elétricos e de fibra ótica, possibilitando, por
exemplo, fotografar o fundo ou mesmo inspecionar e
direcionar o amostrador antes da amostragem. A
grande maioria dos equipamentos foi desenvolvida
pelos próprios cientistas que os utilizavam e por esta
razão é comum o equipamento ter o nome de seus
inventores.
Além da questão do volume e da
representatividade da amostra, uma das áreas que
começa a ser tratada por aqueles que querem entender
com mais detalhe o ambiente marinho, é a questão de
análise do dado in situ. Sabemos que a pressão
hidrostática, temperatura ambiente, velocidades de
correntes e uma série de outros fatores podem ter
influência nas análises. Assim, por exemplo, medidas
geotécnicas, medidas geofísicas, consumo de oxigênio
e trocas iônicas entre a coluna d’água e o sedimento,
já tem sido realizadas no sedimento quando ainda no
fundo marinho.
Os recursos minerais marinhos podem ocorrer
distribuídos em superfície ou sub-superfície e a
avaliação dos depósitos depende do emprego de
amostradores que possam fazer amostragens
representativas.
Este artigo não tem pretensão de cobrir todos
os equipamentos de amostragem de fundo existentes,
por serem numerosos e estarem em constante
desenvolvimento. Serão tratados os equipamentos
mais usuais para avaliação do potencial mineral e
aqueles que representam avanço tecnológico na
amostragem e coleta de dados do fundo marinho em
sedimentos não consolidados. As amostragens com
perfuração de sondas rotativa para hidrocarbonetos
não serão tratadas neste artigo.
AMOSTRAGEM DE FUNDO
A amostragem de fundo é realizada com o
propósito de definir a natureza do fundo, a quantidade
de minerais ou realizar análises de detalhe. Portanto
é fundamental que a amostra seja integral e
representativa para que os resultados das análises
sejam válidos.
A definição dos pontos de amostragens deve
levar em conta além do espaçamento entre amostras,
se possível os dados de batimetria, sísmica rasa de
alta definição e imagens de sonar. Estes dados
indiretos permitem uma avaliação da variabilidade da
topografia, da natureza do fundo e da existência de
trapas em sub-fundo, dando subsídios a uma melhor
definição de onde realizar amostragem, além de
informação sobre até onde se estende o domínio
daquela determinada litogia ou concentração mineral.
Outros dados indispensáveis são posicionamento
geográfico, profundidade, dia, hora, equipamento
coletor e uma breve descrição da amostra e das
condições de amostragens. Todas estas informações
devem estar contidas em uma ficha a ser preenchida
no momento da coleta para facilitar o processamento
do dado e esclarecer dúvidas futuras caso existam.
Há uma variedade enorme de fichas e cada uma
apropriada para um determinado tipo de equipamento.
TIPOS DE AMOSTRADORES
Para facilitar a visualização dos tipos de
equipamentos e suas aplicações, foi elaborada uma
classificação dos diversos tipos de amostradores de
fundo conforme indicado naTtabela 1.
São classificadas como superficiais as
amostragens que não passam de 30 cm de
profundidade e englobam os equipamentos tipo
busca-fundo e dragas de arrasto. Estas amostragens
por sua vez podem ser classificadas em amostras
pontuais que compreendem uma área amostrada
aproximadamente do tamanho do equipamento
enquanto que as amostras não pontuais são aquelas
em que o equipamento é arrastado no fundo por uma
determinada distância e os sedimentos coletados
podem representar mais de uma fácies sedimentar.
Um resumo de suas principais características está na
Tabela 2
As amostragens sub-superficiais envolvem a
coleta de sedimentos desde a superfície do fundo
marinho até dezenas de metros e para isto são
empregados as amostradores caixa e os
testemunhadores. As principais características dos
testemunhadores estão resumidas naTabela 3.
A seguir são apresentados os principais
equipamentos utilizados em amostragem de fundo, os
quais têm sido reproduzidos ao longo do tempo em
diversos países, em diferentes tamanhos e com
adaptações. As características aqui apontadas são,
portanto genéricas para aquele tipo de equipamento.
A. G. Figueiredo Jr. & I. Brehme 271
Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000
AMOSTRADORES SUPERFICIAIS NÃO
PONTUAIS
Os amostradores não pontuais são aqueles que
são arrastados no fundo marinhos por uma
determinada distância coletando material do fundo
(Zembruscki & Felipe1978). Caso haja uma variação
de fácies o amostrador irá coletar uma amostra
composta. Normalmente este tipo de amostrador é
utilizado para fornecer uma informação que não
necessite muita precisão dos dados e sua aplicação é
usual na coleta de sedimento, dragagem de rochas,
nos estudos de levantamento expeditos e de biota de
fundo. A estes amostradores é aplicado o nome de
draga cujos principais representantes são draga de
Gibbs, draga de correntes e draga biológica (Fig 1).
Draga de Gibbs.
Trata-se de um dos instrumentos mais simples
para amostragem e, todavia bem eficaz. É constituída
por um tubo de metal com diâmetro variável, onde
em uma das extremidades está preso um saco de
tecido para recolher a amostra e na outra, que tem a
borda cortante, é fixo o cabo de arrasto (Fig. 1a).
Para se fazer uma dragagem com um ângulo de arrasto
suficiente para não levantar inadvertidamente o
equipamento do fundo, é importante que o
comprimento do cabo seja pelo menos 2,5 vezes a
profundidade. Após alguns minutos de arrasto o
equipamento é içado a bordo e o sedimento recolhido
do saco. Dependendo de sua dimensão, este
equipamento pode ser manuseado manualmente de
uma pequena embarcação. Quando utilizado em águas
mais profundas, deve ser dimensionado com mais
peso e caso necessário, pesos adicionais podem ser
colocados no cabo de reboque avante da draga. Um
dos problemas deste equipamento é o efeito de
lavagem do sedimento durante o resgate e outro
problema é a coleta de sedimento misturado caso o
equipamento se arraste sobre mais de uma fácies
sedimentar.
Draga retangular ou draga biológica.
A draga retangular ou também chamada biológica
tem um formato retangular com uma borda cortante e
seu corpo formado por uma armação de metal com
tela (Fig. 1b). O seu interior é revestido por um tecido
para armazenar o sedimento. O seu arrasto é feito
por duas hastes flexionadas por dobradiças presas à
borda cortante. As hastes são presas duas pontas de
cabo que se unem ao cabo principal. Da mesma forma
que na draga Gibbs para se fazer uma dragagem sem
levantar inadvertidamente o equipamento do fundo, é
importante que o comprimento do cabo seja pelo
menos 2,5 vezes a profundidade.
É comum a perda de equipamentos de arrasto
de fundo quando estes se prendem a obstáculos de
fundo. Para diminuir esta perda das dragas, uma das
pontas do cabo é ligado a haste com um elo de
segurança que se rompe no caso de muita tensão. O
rompimento de apenas uma ponta de tração fará com
que a draga rodopie em volta do obstáculo de fundo
libertando-se. Para atingir maiores profundidades
pesos adicionais podem ser colocados no cabo a
vante da draga.
Draga de rochas
A draga de rocha ou draga de corrente é utilizada
para dragar rochas de formações rochosas da
cordilheira mesoceânica, platôs e montes submarinos.
Por se tratar de uma draga que sofre alto impacto
com o fundo e com grande chance de perda, ela deve
ser de material bem resistente e de baixo custo. O
formato mais comum deste tipo de draga tem uma
boca retangular de bordas cortantes e algumas vezes
providas de dentes que ajudam a arrancar parte da
rocha. A parte posterior que abriga a amostra é
normalmente feita de uma malha de correntes. Da
mesma forma que nas outras operações de dragagem,
o comprimento do cabo lançado ao mar deve ser de
2,5 vezes a profundidade. Por se tratar de uma
amostragem que colocará muita tensão no cabo de
arrasto, é importante que os operadores se mantenham
alerta e as áreas de risco livres. Uma fotografia de
uma draga de rochas é apresentado na 1c.
AMOSTRADORES SUPERFICIAIS
PONTUAIS
Os amostradores pontuais de superfície ou
busca-fundo (Fig. 2) são geralmente equipamentos
272 Amostragem Geológica na Pesquisa Mineral
Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 18(3), 2000
Tabela 1 - Classificação dos amostradores de fundo segundo suas características de amostragem.
Tabela 2 - Características principais dos amostradores de fundo tipo dragas e busca fundo
Tabela 3 - Características principais dos testemunhadores.
A. G. Figueiredo Jr. & I. Brehme 273
Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000
Figura 1 - Dragas: a - Draga Gibbs; b - Draga retangular; c - Draga de rochas.
leves, podendo ser utilizados em embarcações
pequenas, e permitem rapidez entre uma amostragem
e outra. Junto com a geofísica eles são ideais para
conhecer o fundo antes de enviar equipamentos que
demandem mais tempo de operação e que sejam mais
valiosos como, por exemplo, um testemunhador ou
um amostrador caixa em embarcações de maior porte.
Dentre os amostradores pontuais somente o Phipps
e Skoopfish são utilizados com a embarcação em
movimento.
Phipps
Este é um amostrador superficial pontual que é
utilizado com o barco ou navio em movimento (Ellis
1973, Kowsman et al. 1983). Ele tem o formato de
um tubo tendo em um lado uma borda cortante e no
outro um saco de tecido para armazenar o sedimento
(Fig. 2a). O tubo tem um sistema de tração reversível
em que, para descer ao fundo, com o navio em
movimento, o equipamento é tracionado por um ponto
na parte posterior e, auxiliado por aletas também na
parte posterior, o equipamento é direcionando ao
fundo. Ao tocar o fundo rompe-se um elo de barbante
que prende o cabo de tração a parte posterior e o
equipamento passa a ser rebocado pela parte dianteira
e assim com tendência a subir. Uma das desvantagens
deste equipamento é o processo de lavagem que a
amostra sofre durante a recuperação do equipamento.
O equipamento é utilizado com freqüência junto com
a perfilagem de sonar de varredura lateral, permitindo
que o fundo seja amostrado sem interromper a
navegação com o navio a 3 ou 4 nós de velocidade.
Os resultados são uma ajuda na interpretação dos
registros.
Skoopfish
É um equipamento semelhante em forma e
funcionamento ao amostrador Phipps. Possui, porém
uma placa articulada que fecha a extremidade aberta
após o equipamento tocar o fundo (Emery &
Champion 1948). O recipiente na extremidade
dianteira de 4 cm de diâmetro, tem capacidade de
amostragem de 75 cm3 e é facilmente introduzido e
removido com a amostra para posterior análise.
Funciona muito bem em profundidades de até 200 m
com a embarcação em movimento. Na figura 2b pode
ser visto o equipamento e o tubo de coleta.
Dietz-La Fond
É um equipamento prático de pequeno porte
para ser utilizado em pequenas profundidades incluindo
rios, lagos e plataforma continental (La Fond & Dietz
1948). Ele tem uma estrutura alongada com duas
conchas na base e uma aleta verticalizadora na parte
posterior (Fig. 2c). As conchas que abocanham o
sedimento são impulsionadas por um peso que desliza
ao longo de um cursor. O equipamento desce ao
fundo com as conchas abertas e travadas por uma
barra transversal, que assim que toca o fundo, libera
as conchas para abocanhar o fundo.
Shipeck
É um busca-fundo com um volume e peso maior
que do Dietz-La Fond e princípio de funcionamento
diferente. O Shipeck tem um formato de um
semicilindro e seu sistema de fechamento é acionado
por uma poderosa mola de aço (Fig. 2d). Quando
armado para descer ao fundo o Shipeck tem forma
274 Amostragem Geológica na Pesquisa Mineral
Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 18(3), 2000
de um semicilindro armazenado dentro da estrutura
do equipamento. Assim que toca o fundo um peso na
parte superior do equipamento desliza por um cursor,
bate em uma trava que libera o semicilindro interno
que é impulsionado pela mola. O semicilindro corta o
sedimento e armazena-o dentro do equipamento.
Uma característica importante deste equipamento
é que, dependendo do tipo de sedimento, a superfície
do sedimento pode ser preservada. Outra
característica importante é que o semicilindro pode
ser substituído por outro limpo enquanto aquele com
sedimento é processado e assim ganha-se tempo na
amostragem. O fato de o Shipeck ter uma mola muito
forte faz com que sedimentos semiconsolidados e
crostas possam também ser amostrados. Devido a
esta mola forte deve ser manuseado com cuidado.
van Veen
É um equipamento de funcionamento simples,
robusto que, dependendo de seu tamanho, pode
pegar grande volume de sedimentos. Ele é constituído
de duas conchas articuladas por uma dobradiça
através de duas barras cruzadas presas ao cabo de
aço que vai até a embarcação (Fig. 2e). As conchas
se mantêm abertas por um sistema de trava que é
liberado assim que o equipamento toca o fundo. O
recolhimento do cabo faz com que as conchas se
fechem apanhando o sedimento. Por não ter vedação
perfeita, pode ocorrer lavagem de amostra.
Ekman
É um equipamento em formato de caixa,
semelhante ao amostrador caixa descritas a seguir com
a diferença no sistema de fechamento e acesso ao
sedimento amostrado. O amostrador de Ekman (Fig.
2f) desce ao fundo com as tampas superiores e
também as duas mandíbulas em forma de segmento
de cilindro aberto. Assim que equipamento toca o
fundo é liberada a tensão que prende uma trava na
parte superior do equipamento e as mandíbulas são
impulsionadas por duas potentes molas de aço além
das tampas superiores serem fechadas. Uma das
vantagens deste amostrador é que a superfície de
interface água-sedimento é preservada e assim pode
ser observada e sub-amostrada.
AMOSTRADORES PONTUAIS DE SUBSUPERFÍCIE
Os amostradores pontuais de sub-superfície
são aqueles que amostram desde a interface águasedimento
de fundo até dezenas de metros. São
equipamentos mais pesados e têm como principal
propriedade preservar a estratigrafia dos sedimentos.
Dentro desta classificação de sub-superficiais temos
duas categorias, os amostradores caixa que
recuperam um bloco de sedimento de pequeno
comprimento (Fig. 2g, h, I) e os testemunhadores que
podem recuperar longas seções de sedimento (Fig.
3). Os testemunhadores por sua vez podem ser
divididos em “com pistão” e “sem pistão”, usualmente
também chamado de testemunhador a “gravidade”.
Duas outras classes de testemunhadores são os
testemunhadores com “vibrador” e testemunhadores
com “martelete de impacto”. As principais
características estão resumidas na tabela 3.
Caixa amostradora
A caixa amostradora, do inglês box-corer, foi
desenvolvida de forma a ser possível amostrar um
bloco de sedimentos que pudesse posteriormente ser
secionado em diversas direções. Ela foi desenvolvida
por Reineck (1963) para o estudo de estruturas
primárias e biológicas nos sedimentos do Mar do
Norte e hoje tem um emprego universal desde as
regiões inter-marés até o oceano profundo.
A caixa amostradora tem formato de uma caixa
que é inserida em uma estrutura alongada e tem um
braço articulado com uma lâmina que fecha a base
no momento de retirada da mesma do fundo. A
estrutura do equipamento possui também uma
armação a sua volta que serve para garantir a
verticalização da caixa amostradora ao tocar o fundo
(Fig. 2g). A caixa amostradora desce ao fundo com
a tampa superior e a lâmina de fechamento aberta até
que o equipamento se enterrar no sedimento. Neste
momento fecha-se a tampa superior e a medida que
o equipamento é içado, o braço articulado gira em
torno de um pivô e a lâmina de fechamento corta o
sedimento até fechar totalmente a base da caixa. Uma
vez a bordo, a caixa amostradora é retirada da
A. G. Figueiredo Jr. & I. Brehme 275
Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000
Figura 2 – Busca-fundo
a - Amostrador Phipps; b - Amostrador Skoopfish; c- Amopstrador Dietz-La Fond; d - Amostrador Shipeck; e - Amostrador van Veen;
f - Amostrador Ekman; g - Amostrador caixa; h - Amostrador multi-caixa; i - Amostrador multi-testemunhador.
276 Amostragem Geológica na Pesquisa Mineral
Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 18(3), 2000
Figura 3 - Testemunhadores
a - Testemunhador Phleger; b - Testemunhador a gravidade; c - Esquema das partes de um testemunhador a gravidade; d -
Testemunhador de queda livre; e - Testemunhador caixa; f - Lançamento de um testemunhador a pistão; g - Esquema de funcionamento
de um testemunhador a pistão; h - Testemunhador a vibração em ação em águas rasas; i - Testemunhador a vibração submersível; j -
Testemunhador a percussão Alpine.
A. G. Figueiredo Jr. & I. Brehme 277
Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000
estrutura e iniciam-se os procedimentos de subamostragem.
Uma das vantagens da caixa
amostradora é que uma das laterais da caixa pode
ser removida e assim o bloco de sedimento pode ser
secionado em diversas direções e intervalos.
Multi-amostradores
O sistema do amostrador caixa é utilizado em
amostragem múltipla com caixas amostradoras
estreitas arranjadas em círculo, permitindo a
amostragem de uma área maior (Fig. 2h). O
equipamento tem bom funcionamento em sedimentos
lamosos a arenosos em qualquer profundidade, mas
devido ao tamanho do equipamento, necessita de
navio com guincho. O mesmo acontece com o multitestemunhador
(multi-corer), onde em lugar de caixas
são utilizados tubos de PVC ou acrílico de 1 m de
comprimento com dispositivos de fechamento dos
topos e das bases dos tubos (Fig. 2i). Os tubos
descem ao fundo projetados à frente da estrutura,
com a tampa superior aberta, bem como a inferior
que é articulada por um braço móvel. Ao penetrar no
sedimento as tampas superiores são fechadas por uma
mola, enquanto as tampas inferiores cortam o
sedimento até chegarem a base dos tubos. Devido à
espessura da tampa da base o multi-testemunhador
só trabalha bem em sedimentos lamosos
inconsolidados. Também neste amostrador a
preservação tanto da água como da interface
sedimento-água é excelente. Após a retirada dos
tubos da estrutura, estes são colocados em um suporte
que viabilize a saída do sedimento pelo topo, à medida
que o tubo de acrílico é abaixado. Este sistema permite
a sub-amostragem do sedimento, fatiando-o em
camadas centimétricas e com isto a obtenção de uma
estratigrafia detalhada. Outro ponto interessante deste
sistema é a disponibilidade de diversas amostras
semelhantes, o que possibilita a correlação entre
diversos tipos de análises.
TESTEMUNHADOR À GRAVIDADE
Os testemunhadores à gravidade são os
dispositivos mais simples dentre os testemunhadores.
O testemunhador Phleger (Fig. 3a), hoje ainda
utilizado como peso piloto em testemunadores a
pistão, é um testemunhador pequeno e prático para
obter testemunhos curtos até manualmente de
embarcações pequenas. Constitui-se de um tubo com
um peso na parte posterior onde se prende o cabo
de sustentação e uma ponta cortante que penetra no
sedimento. Na parte interna possui um tubo de PVC
de 2,5 a 6,5 cm de diâmetro com um dispositivo de
lâminas na extremidade inferior que impedem a perda
do material amostrado.
Com o tempo este pequeno testemunhador foi
melhorado (Fig. 3b). O tubo, normalmente chamado
de barrilete, pode ser de aço ou PVC rígido com
diâmetro usualmente de 7,5 ou 11 cm e em seções
conectáveis de 3 m de comprimento. Quando se utiliza
o barrilete de aço, normalmente se utiliza um tubo
interno de PVC para armazenar o sedimento. Na
parte superior o peso de 1,5 toneladas ajuda na
penetração. Alguns destes testemunhadores possuem
uma válvula na parte superior do tubo e outra na parte
inferior. A válvula no topo evita a entrada de água e
assim a lavagem do sedimento, enquanto a válvula
inferior, chamada de “válvula retentora” ou “aranha”
impede a saída do sedimento durante a retirada do
fundo. Uma das partes importantes do testemunhador
é o cortador que vai preso na ponta do tubo (Fig.
3c). Este cortador deve ser dimensionado para ter
um perfil que cause o menor atrito possível durante a
penetração no sedimento e assim permita uma boa
penetração com bastante recuperação. Este tipo de
testemunhador é usualmente descido ao fundo com o
guincho sob controle a 1 – 1,5 m/s. Quando faltam
poucos metros o guincho pode ser totalmente liberado
para que com a descida mais rápida haja maior
penetração. Também pode ser utilizado um sistema
de alavanca (Hvorslev & Stetson, 1946) que consiste
de um braço disparador que funciona em um sistema
de equilíbrio baseado em um binário de forças onde
o testemunhador é preso pela alça no braço menor
enquanto o peso disparador ou peso piloto é preso
no braço maior. Desta forma, o testemunhador que
pode pesar até 1 tonelada é equilibrado por um peso
de 100 kg. Para a operação de testemunhagem, o
cabo que vem do guincho é passado no braço
disparador que prende o cabo e ao mesmo tempo
sustenta o testemunhador por uma alça. Após a
passagem pelo braço disparador o cabo forma um
seio que corresponde ao tamanho da queda livre e é
278 Amostragem Geológica na Pesquisa Mineral
Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 18(3), 2000
fixo na alça do testemunhador. Tendo em vista que o
cabo que prende o peso piloto é maior que o
comprimento do testemunhador, este segue na frente
e tocará o fundo primeiro. Ao tocar o fundo o binário
de força é desequilibrado e o testemunhador é liberado
e cai em queda livre penetrando no sedimento.
O testemunhador sem cabo nem guincho é um
equipamento de testemunhagem à gravidade com
queda livre (Moore, 1961). Ele consiste de um tubo
leve, fixado em dispositivos flutuantes e que vai ao
fundo marinho dentro de um envoltório pesado,
descartável (Fig. 3d). É lançado livre na água e
impulsionado pelo seu peso penetra no fundo. O tubo
com os flutuadores é liberado em seguida e volta à
superfície da água com os sedimentos recuperados.
É um sistema prático para coleta rápida de
testemunhos curtos em águas rasas.
TESTEMUNHADOR CAIXA
O testemunhador caixa (kasten corer) é um
testemunhador a gravidade de seção quadrada de 30
x 30 cm de 3 m ou mais de comprimento feito em aço
inox (Fig. 3e). Na parte posterior são colocadas
diversas placas de chumbo para dar peso suficiente
para a penetração do testemunhador no sedimento.
Na parte anterior é colocada uma ponteira com
bordas cortantes e internamente uma válvula que
permite a entrada do sedimento, mas impede sua
saída. Durante a coleta, para a verticalização do
testemunhador é colocado um peso guia próximo a
parte anterior preso por dois cabos à parte posterior.
A medida que o testemunhador penetra no sedimento
este peso permanece na superfície. Uma das
características deste testemunhador é que a seção
quadrada é formada por uma parte em perfil “U” e a
outra uma tampa que é aparafusada no perfil em “U”.
Após a coleta do testemunho esta tampa é retirada
permitindo o acesso à seção completa do testemunho
para sub-amostragens, fotografias e outros estudos.
TESTEMUNHADORES À PISTÃO
O testemunhador com pistão, inventado por
Kullenberg (1947) (Fig. 3f) é sempre utilizado com o
sistema de alavanca disparadora para propiciar queda
livre. Os testemunhadores com pistão são muito
semelhantes aos testemunhadores à gravidade
possuem, porém um pistão que corre dentro do tubo
de PVC e que tem a função de impedir fricção severa
e encurtamento da seção sedimentar. Durante a
operação de testemunhagem este pistão fica logo após
a válvula retentora até que o seio de cabo na alavanca
disparadora seja totalmente desfeito e isto
corresponde ao momento que o cortador toca o
fundo. A partir daí, o testemunhador penetra no
sedimento enquanto o pistão mantém-se estático. A
figura 3g ilustra o funcionamento do testemunhador
com pistão. Um problema que ocorre neste tipo de
testemunhagem é quando o testemunhador não é
preenchido completamente com sedimentos. Quando
o testemunhador é içado pelo pistão o sedimento pode
ser sugado para cima ou pode ocorrer implosão do
tubo interno. Procurou-se contornar este problema
utilizando um pistão rompível em que uma parte
permanece sobre o sedimento e a outra superior iça
o testemunhador.
Silva & Hollister (1973) desenvolveram um
testemunhador a pistão gigante com diâmetro de 14
cm (11,5 tubo interno) e peso de 5 toneladas que
pode recuperar 20-40 m de sedimentos. Devido as
suas dimensões só pode ser utilizado em navios
maiores com guincho adequado.
Atualmente o testemunhador com pistão é
utilizado principalmente em sedimentos lamosos
inconsolidados, enquanto o testemunhados à
gravidade tem uma recuperação melhor em
sedimentos arenosos ou endurecidos.
TESTEMUNHADORES À VIBRAÇÃO
Os testemunhadores a vibração baseiam-se no
princípio da liquefação do sedimento pela
vibração(Lanesky et al., 1979). O vibrador mais
comum é o utilizado em construções civis para
liquefazer o concreto para a expulsão das bolhas de
ar e constitui-se de um motor a gasolina, ligado ao
um cabo coaxial que tem um eixo excêntrico na ponta.
Esta ponta, que é a parte vibrante, deve ser firmemente
presa ao testemunhador e este por sua vez tem que
ser de metal para melhor conduzir as vibrações. Ao
vibrar o tubo liquefaz o sedimento a sua volta
permitindo que o tubo penetre no sedimento com
facilidade. Os tubos mais freqüentemente utilizados
A. G. Figueiredo Jr. & I. Brehme 279
Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000
tem sido os de alumínio com diâmetro de 7.5 cm,
parede com 2 mm de espessura e 9 m de
comprimento. Este testemunhador a vibração é
montado em uma torre de sustentação e pode ser
utilizado em terra, em água rasa (Fig. 3h) e até em
mar profundo (Fig. 3i).
TESTEMUNHADORES A PERCUSSÃO
Os testemunhadores à percussão são acionados
por impactos de alta freqüência sobre o tubo que
penetra no solo. Este sistema pode tanto funcionar
no fundo marinho bem como fora d’água e em ambos
os casos o testemunhador é sustentado na vertical
por uma torre. A percussão na parte posterior do
tubo pode ser produzida por martelete acionado por
ar comprimido. O tubo deve ser resistente e de parede
fina para que o atrito com o sedimento seja o menor
possível. A utilização de um cortador na base pode
facilitar a penetração e uma válvula retentora deve
ser utilizada em sedimentos com muita água. Também
este testemunhador pode ser utilizado submerso ou
fora d’água. A figura 2j apresenta o testemunhador a
percussão Alpine.
AMOSTRADORES DE SEDIMENTO EM
SUSPENSÃO
Os amostradores de sedimento em suspensão
chamados de “armadilhas de sedimento” foram
desenhados para capturar o sedimento em suspensão.
Existem dois tipos básicos: um deles mais simples,
“armadilha tubular de sedimento”, que captura todo
o sedimento sem separar o período de amostragem e
a “armadilha temporizada de sedimento” que captura
o sedimento por período de tempo e o armazena
separadamente. As principais características destes
amostradores estão resumidas na tabela 4.
A armadilha tubular de sedimentos é constituída
de uma estrutura simples onde um tubo de PVC com
uma das extremidades fechada é enterrado no
sedimento. A outra extremidade fica aberta e coleta
o sedimento que desce na coluna d’água. Existem
também tubos que tem aberturas nas laterais para
captura de sedimentos que estejam sendo
transportados por correntes. Caso queira se amostrar
sedimento de tração de fundo, o tubo deve ser
enterrado até que sua borda fique próxima da
superfície do sedimento.
A armadilha temporizada de sedimento tem
forma de um funil com 1 metro de boca e 2 de altura.
Na sua base são colocados uma série de frascos (12
- 24) em um tambor que gira a um tempo prédeterminado.
Estas armadilhas são geralmente
utilizadas em oceano profundo e podem ficar até 3
anos no fundo antes de serem recuperadas. Para que
haja conservação da matéria orgânica que cai na
armadilha, os frascos contêm uma solução
conservante. Normalmente este tipo de armadilha é
colocada em série a diversas profundidades da coluna
d’água e seguras por um cabo que pode ser liberado
do fundo por meio de ondas acústicas. Uma outra
forma de utilizar estas armadilhas é colocando-as à
deriva acompanhadas por um barco ou por
rastreamento com satélite. Os dados das armadilhas
servem para avaliar a razão de sedimentação.
AMOSTRADORES DE DADOS in situ
Diversas medidas realizadas em laboratório
divergem das medidas realizadas in situ em função
de parâmetros que dependem da pressão hidrostática,
da preservação do arranjo das camadas e não
perturbação da biota. Recentemente, com o objetivo
de manter as condições ambientais e termos medidas
próximas das condições reais, diversos equipamentos
foram desenvolvidos para realizarem medidas in situ.
Entre os equipamentos mais comuns estão aqueles
que realizam medidas de velocidade da onda acústica
no sedimento, medidas geotécnicas e medidas de
consumo de oxigênio pela biota. As medidas de
velocidade do som e geotécnicas são realizadas com
uma sonda com diversos sensores que são enterrados
no fundo marinho e sendo os dados armazenados em
Tabela 4 - Características principais dos amostradores de sedimento em suspensão.
280 Amostragem Geológica na Pesquisa Mineral
Revista Brasileira de Geofísica, Vol. 18(3), 2000
memória no próprio equipamento(Davis, 1996, Davis,
et al., 1996). As medidas biológicas são realizadas
dentro de uma câmara enterrada no sedimento para
isolar o meio circundante. Dentro da câmara, medidas
são feitas com micro-sondas para determinar o
consumo de oxigênio e temperatura, à medida que o
tempo passa e a diversas alturas do fundo e também
dentro do sedimento (Glud, et al., 1995).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A amostragem do fundo marinho envolve
desafios e criatividade e quando é realizada com
sucesso, a amostra representa o início de um processo.
“Dê-me uma amostra do fundo oceânico e eu lhe
contarei sua história”. Esta é uma frase que revela a
importância da amostragem geológica e o espírito
investigativo que devemos ter a partir da sua análise.
A amostragem geológica do fundo marinho
permite o contato direto entre o investigador e o
sedimento de fundo, possibilitando uma análise
detalhada de diversos parâmetros. Todavia é
fundamental que o equipamento de amostragem seja
apropriado para o tipo de sedimento e análise que se
pretende realizar. Além disso, a amostra deve ser
representativa do depósito sob investigação.
REFERÊNCIAS
DAVIS, A.M., 1996. Geophysics in offshore site
investigation: a review of the state of the art. In:
Geology of Siliciclastic Shelf Seas (Eds. De Batist,
M. & Jacobs, P.) Geological Society Special
Publication v. 117, p. 323-338.
DAVIS, A.M., HUWS, D.G. & HAYNES, R.,
1996. Geophysical ground-truthing experiments
in Eckernförde Bay. Geo-marine Letters, v. 16,
p. 160-166.
ELLIS, J. P., 1973. Report on a new underway
sediment sampler. Woods Hole, Mass. WHOI,
30 pp.
EMERY, K. O. & CHAMPION, A. R., 1948.
Underway bottom sampler. Jour. Sed. Petrology,
v. 18, p. 30-33.
GLUD, R.N.; GUNDERSEN, J.K.;
REVSBECH, N.P.; JØRGENSEN, B.B.;
HÜTTEL, M., 1995. Calibration and
performance of the stirred flux chamber from the
benthic lander ELINOR. Deep-Sea Res., v. 42,
p. 1029-1042.
HVORSLEV, M. J. & STETSON, H. C., 1946.
Free-fall coring tube; a new gravity bottom
sampler. Bull. Geol. Soc. Amer., v. 57, p. 935-
950.
KOWSMANN, R. O., COSTA, M. P. A.,
PALMA, J. J. C., VICALVI, M. A., 1983.
Métodos de coleta e análise de sedimentos
inconsolidados. In: Chaves, H A F (ed.) –
Processos e métodos (relatório final) Série Projeto
REMAC, n. 6, p. 63-76.
KULLENBERG. B., 1947. The piston corer
sampler. Svenska Hydrog. Biol. Komm. Skr. S.
3, Bd. 1, H. 2, 46pp.
LA FOND, E. C. & DIETZ, R. S.,1948. New
snapper type sea floor sampler. Jour. Sed.
Petrology, v. 18, p.34-37.
LANESKY, D.E., LOGAN, B.W., BROWN,
R.G. & RINE, A.C., 1979. A new approach to
portable vibracoring underwater and on land. Jour.
Sed. Petrology, v. 48, p. 654-657.
MOORE, D.G., 1961. The free-corer; sediment
sampling without wire and winch. Jour. Sed.
Petrology. v. 31; n. 4, p. 627-630.
REINECK, H. E., 1963. Der Kastengreifer. Natur
und Museum v. 93, p. 65-68.
SILVA, A. & HOLLISTER, C. D., 1973.
Geotechnical properties of ocean sediments
recovered with Giant Piston corer, in Gulf of
Maine. J. Geophys. Res., v. 78, p. 3597-3616.
ZEMBRUSCKI, S.G. & FELIPE, J. R. C., 1978.
Técnicas de dragagem no Cruzeiro Platôs
Marginais do Nordeste Brasileiro. Bol. Téc.
Petrobrás, Rio de Janeiro, v. 21, no. 3, p. 201-
234.
NOTE ABOUT THE AUTHORS
Ver página 326
Nenhum comentário:
Postar um comentário