domingo, 19 de setembro de 2010

Mineiros chilenos sobreviverão a peixe e água; entenda o caso

Os 33 mineiros presos há 19 dias em uma mina de cobre e ouro no Chile devem sobreviver com uma dieta de peixe, leite e pêssegos, que eles receberão a cada dois dias, informa na edição desta terça-feira o jornal local El Mercurio.

Os trabalhadores estão presos desde o dia 5 de agosto, dentro da mina San José, na cidade de Capiapó, quando um desabamento a 300 metros de profundidade bloqueou a saída do local. Ainda não se sabe, ao certo, o que provocou o acidente, que está sendo investigado pelas autoridades do país.
Os mineiros foram encontrados com vida em um dos refúgios subterrâneos - construções dentro de minas feitas, exatamente, para emergências. Foi confirmado que estavam vivos quando, no domingo (22), uma sonda perfurou a rocha até o refúgio a quase 700 metros de profundidade do solo. Eles conseguiram sobreviver, aparentando boa sáude, graças à comida armazenada para emergências no refúgio. Agora, deverão esperar até quatro meses,segundo especialistas, para que sejam retirados com segurança do local.
Nesta terça-feira (24), uma terceira sonda se aproxima do espaço subterrâneo onde 33 trabalhadores permanecem soterrados. O engenheiro Andrés Sougarret da Codelco, estatal chilena de exploração de recursos minerais, que comandou as perfurações efetuadas para encontrar os trabalhadores, disse que a sonda já alcançou 530 metros de profundidade. Ela deverá melhorar a ventilação do local.
A primeira sonda, que permitiu constatar que os trabalhadores soterrados estavam vivos, chegou ao refúgio subterrâneo no domingo (22). De acordo com Sougarret, a segunda sonda chegou ao reduto na segunda-feira (23) à noite, a uma profundidade de 678 metros. "Agora vamos poder dividir as funções. A primeira sonda será destinada à entrega de alimentos de forma rápida. A segunda será para nos comunicar permanentemente", explicou o especialista.
Como será o resgate
O resgate pode demorar entre três e quatro meses, pois é necessária a perfuração de um túnel de cerca de 700 metros para retirar os mineiros. Uma escavadeira de 30 toneladas perfurará a rocha a uma velocidade de 20 metros por dia, para escavar um túnel vertical de 66 centímetros de diâmetro e, pelo qual, os operários serão retirados.
No momento, os engenheiros estão concluindo um levantamento topográfico para poder abrir o novo acesso e irão coordenar as ações com o grupo soterrado quando as máquinas iniciarem o trabalho. O tempo para se chegar ao grupo ainda não foi comunicado aos mineiros, que receberão tarefas diárias e serão monitorados por médicos e psicólogos.
Saúde mental e física


Segundo Jaime Mañalich, ministro da Saúde chileno, foi solicitada ajuda da Nasa (agência espacial dos EUA) para alimentar os mineiros presos, com pequenas doses de alimentos condensados, mas ricos em proteínas. O jornal El Mercurio, do Chile, assinala que a Nasa já está planejando a assessoria ao governo chileno.
O grupo de mineiros sobreviveu até agora com duas colheres de atum e meio copo de leite a cada 48 horas. Equipes médicas entraram em contato com o grupo por um sistema de comunicação enviado por meio do duto aberto até o ponto sob a terra, com o qual se estabeleceu a primeira comunicação no domingo (22), e foi possível constatar "o perfeito estado de saúde de todos", segundo a médica Paula Newman.
Os médicos se encarregarão da recuperação física e os psicólogos darão apoio emocional para que osoterrados aguentem em melhores condições. Paula informou que o grupo já recebeu uma solução com glicose a 5% e comprimidos de omeprazol, um medicamento para o estômago visando evitar possíveis úlceras devido à falta de alimentação. Além disso, os profissionais enviarão um questionário para conhecer o estado físico e psicológico com perguntas como "quem está organizando o grupo?", "quando foi a última vez que você comeu?" ou "está ferido, machucado ou doente?".
Comunicação com a família
O buraco fino feito por uma sonda para chegar ao refúgio de emergência onde estão reunidos os mineiros possibilitou a comunicação deles com a superfície. A nota, segunda-feira (23), com letras grandes, escritas em vermelho dizia: "Estamos bem no refúgio, os 33".
"A sobrevivência de mineiros após 17 dias é muito rara, mas, dado que eles conseguiram até agora, devem sair fisicamente bem", previu Davitt McAteer, ex-secretário-assistente de sanidade e segurança para as minas no Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, durante o governo do presidente Bill Clinton. "Os riscos à saúde em uma mina de cobre e ouro são muito pequenos se eles têm ar, alimento e água", completou.
Na superfície da mina, houve uma festa para os familiares das vítimas, com música, comida e velas, além de bandeiras do país. As famílias foram convidadas a escrever recados levados pela sonda aos prisioneiros para ajudá-los a passar os longos meses de duração das operações de resgate. Psicólogos, que se dedicam há dias às famílias angustiadas, os aconselharam a escrever mensagens positivas para ajudar os mineiros a resistirem.
"Estamos contando o que está acontecendo em nível nacional, pedimos que ele mantenha a calma, que tenha fé e quem sabe ele não perde um pouco da barriga e jogue melhor o futebol! E dissemos também que adoraríamos lhe enviar um pão com abacate que ele ama tanto", contou Caroline Lobos que fez sua primeira mensagem ao pai Franklin Lobos, ex-jogador de futebol profissional dos anos 1980, que operava máquinas subterrâneas na mina.
"Contei que apareci na imprensa internacional, que recebi ligações do mundo inteiro, que virei uma celebridade esta semana. Disse que está tudo bem, que estamos esperando por ele, todos felizes", disse Antenor Berrios, que tem o filho Carlos, 29 anos, preso sob a terra.
Com EFE, Agência Estado e AFP.