sexta-feira, 11 de março de 2011

Terremoto no Japão estoura equipamento de geólogo em Campinas - Sismógrafo construído por geólogo da Unicamp capta terremoto do Japão

Sismógrafo construído por funcionário da Unicamp capta terremoto do Japão Por Redação - 16:07:00 - 48 Views Divulgação


SÃO PAULO (Agência Unicamp) - O terremoto de 8,9 pontos na Escala Richter que atingiu o Japão nesta sexta-feira (11) também foi registrado a poucos quilômetros do campus da Unicamp em Campinas, num prosaico banheiro de fundo de quintal. No local está instalado um sismógrafo horizontal amador construído há três anos pelo geólogo Rogério Marcon, funcionário do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW). “O registro foi feito por volta das 3h30 da manhã, pouco tempo depois da ocorrência do abalo. Entretanto, eu só o verifiquei às 5h30, quando acordei. Logo em seguida, liguei a televisão para me informar sobre o que tinha acontecido”, conta Marcon, que gastou algo como R$ 500 para conceber o aparelho.


De acordo com o geólogo, formado pela própria Unicamp, além do sismo principal, outros 60 terremotos sequenciais, de menor magnitude – abaixo de 6 pontos – foram registrados por sismógrafos no Brasil. “É preciso esclarecer que as pessoas aqui no país ou em Barão Geraldo não sentiram a terra tremer. Apenas os sismógrafos são capazes de captar as ondas propagadas desde o Japão”, esclarece. Ainda segundo Marcon, não há propriamente um teto na Escala Richter. “Entretanto, até hoje, nunca se viu terremoto acima de 9,5. Este do Japão chegou bem perto dessa marca”.


Logo que verificou os dados assinalados pelo seu equipamento e o noticiário, o funcionário da Unicamp começou a receber telefonemas de amigos e de jornalistas interessados em obter informações a respeito do fenômeno. Para compartilhar os dados de maneira mais rápida, ele colocou no ar, via internet, imagens online do sismógrafo (www.astroimagem.com). Marcon diz que o aparelho é basicamente o mesmo que construiu há três anos. “A única diferença é que providenciei uma cobertura para protegê-lo das correntes de ar”. O geólogo utilizou um PC pentium 3 e uma interface para o aparelho conversor analógico. A interface custou 20 dólares e foi importada de uma empresa especializada na construção de sismógrafos amadores.  Ele também lançou mão de um software livre para transformar dados em gráficos. Para captar os terremotos, montou um pêndulo, composto por um transdutor elétrico posicionado sobre uma bobina. O equipamento tem um metro de comprimento por meio metro de largura e está instalado no bairro Guará, próximo ao campus da Unicamp. Nos últimos três anos, conforme Marcon, o sismógrafo registrou centenas de eventos, de variadas magnitudes. O primeiro foi um tremor de 5,2 pontos ocorrido no Atlântico Sul, em abril de 2008, e que foi sentido nos estados de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina. “Entre os sismos mais fortes, o instrumento captou o que destruiu algumas localidades chilenas e o que devastou o Haiti, ambos em 2010”. Em Campinas (93 km de São Paulo), um sismógrafo caseiro feito por um geólogo da Unicamp conseguiu registrar o terremoto que atingiu o Japão, por volta das 3h da madrugada desta sexta-feira (11).  O pesquisador Rogério Marcon disse que a magnitude do tremor foi tão alta que estourou a escala de seu equipamento --ou seja, oscilou mais do que o aparelho poderia captar. "Já havia registrado centenas de terremotos, mas só no do Chile do ano passado vi registros indo além das linhas usadas como referência", afirmou. "Aí já imaginei que esse era algo maior que 8 graus na escala Richter".  Segundo Marcon, outras pesquisas de observação solar fazem com que ele levante durante a madrugada com frequência. "Quando vi a imagem na tela foi impressionante. Pensei: 'Isso é muito fora do comum'. E, pela distância das ondas, já imaginei que fosse no Japão", contou. O equipamento não possui precisão de escala Richter, mas aponta os diferentes tremores, indica a frequência e a localidade do ocorrido, pelo intervalo entre uma onda e outra. "Não dá para dizer que tem um rigor científico, mas sempre acertou e é didático", explica Marcon. O acompanhamento em casa surgiu por curiosidade, mas já se tornou um projeto para o geólogo. Em abril de 2008, ele concluiu a estrutura do sismógrafo, inspirado em um modelo visto numa revista científica de 1979. Realizou adaptações e modernizou o aparelho com uma transmissão para a tela de seu computador (que pode ser vista no site www.astroimagem.com).
Menos de duas semanas depois, Marcon foi, segundo ele, o único a registrar um terremoto de 5,2 graus em Santos (outros observatórios nacionais estariam fechados à época). "Desde então foram muitos, tudo o que acontece no Chile acima de 5,5 graus eu consigo pegar", afirmou, completando que também registrou terremotos no Haiti, China e outros países.
"Apesar de ser triste um acontecimento desses, é interessante poder registrar. Isso tem aplicação científica e, quem sabe, poderá ajudar a aprimorar as previsões desse tipo de acontecimento", disse.