domingo, 30 de dezembro de 2007

Brasileiros criam "cidade-garimpo" na Guiana JORNAL DO RADIO - RORAIMA BRASIL

Brasileiros criam "cidade-garimpo" na Guiana
29-Dec-2007
11:38:58-Atraídos pelo menor rigor na fiscalização ambiental, garimpeiros brasileiros criaram uma cidade, chamada Frenchman Hill (morro do francês), na Guiana, onde exploram ouro e diamante em meio à floresta.
Pioneiro do grupo, Tibúrcio Valeriano de Andrade Neto, 52, diz que brasileiros pagam propina a autoridades da Guiana, usam nome de guianenses laranjas para garimpar e levam ao país "o jeitinho brasileiro".

Para chegar a Frenchman Hill, são necessárias uma camioneta com tração nas quatro rodas e seis horas de viagem (a depender da demora das balsas para atravessar rios e da velocidade do motorista que, no caso da reportagem, chegou a 120 km/h). A estrada sem asfalto é a única que liga a capital Georgetown ao interior do país e à fronteira com o Brasil.

Bonfim
A estrada parte de Lethem, cidade da Guiana, separada do município de Bonfim (RR) pelo rio Itacutu (primeira balsa da viagem). Duas horas de viagem depois, passa pela reserva ambiental Iwokrama, já na floresta amazônica. É na região de floresta que fica o garimpo.
Alguns quilômetros à frente, após a travessia de balsa pelo rio Kurupukari, é preciso pegar, à esquerda, um braço da estrada. Trata-se de uma via estreita, tomada por poças de lama e pela mata fechada, que chega a fazer um túnel verde.
Vencidos 265 km, Frenchman Hill surge com 18 casas de madeira que servem ao comércio (lanchonete, armazéns, loja de roupas) e também um escritório da GGMC (Comissão de Geologia e Minas da Guiana), órgão governamental que fiscaliza a mineração.

Barracas
Barracas de garimpeiros estão espalhadas em volta, distribuídas em dezenas de áreas de garimpo que têm, cada uma, o tamanho equivalente a um campo de futebol e representam a devastação da floresta.

Não há censo que aponte o número de garimpeiros brasileiros. Apenas Neto, o pioneiro do grupo, emprega 22 funcionários, que podem ganhar até R$ 2.000 por mês. Seu irmão, Cristino Pereira de Andrade, 48, diz que "são muito mais de cem brasileiros" por lá.
Potaro-Siparuni, região onde está Frenchman Hill, possui 10 mil habitantes em 20.051 km2, ou seja, 0,5 por km2, segundo censo de 2002.

Em cada área de garimpo, a floresta foi derrubada e os igarapés (riachos que nascem na mata e deságuam em rios) tiveram o curso desviado. Deles sai a água para remover a terra, com uso de dragas, na busca pelo ouro e diamante.

"Aqui existe [fiscalização ambiental] também, mas é um pouco mais largada", diz Edmundo Lomas, 35, comerciante que vende de "aparelho de barbear a arroz e prego" em sua mercearia. Ele diz que cobra 250% a mais em relação ao preço dos produtos no Brasil.

Propina
Lomas confessa que paga propina para que a carga de mercadorias, trazida de Boa Vista (RR), possa chegar.
"Mesmo que a carga esteja 100% documentada, ainda arrumam um jeito de dar uma mordida. Todos os funcionários do governo daqui ganham um salário irrisório. Aí é preciso pagar [propina] R$ 10, R$ 20", afirma Lomas, que tem 40 clientes fixos brasileiros.
"Aqui há 13 anos já foi garimpo. Aí deu uma queda, o pessoal abandonou. Depois reativaram de novo, já tem uns dois anos, quando vim para cá", afirma Neto, que nasceu no Maranhão e passou por garimpos da Venezuela. "Aqui é mais tranqüilo. Existe propina também, mas é mais fácil de a gente combinar", diz o garimpeiro.
"Tem o dono da terra, e a gente tem que ter autorização do dono da terra [para garimpar. Estrangeiro não pode]. A gente dá o dinheiro. Ele [guianense] compra aquela área e a gente fica sócio dele, usando o nome dele, mas a gente não é dono", diz rindo Neto. "É um laranja", explica Lomas.

Segundo Neto, que passa os fins de semana em Boa Vista (RR) com a mulher e o seis filhos, de 15 a 26 anos, o dono da terra fica com 10% da produção do garimpo. O valor da propina, diz Neto, chega a 100 gramas de ouro para os fiscais da Guiana.
"Aqui existe o jeitinho brasileiro. Uma parte a gente não consegue cumprir, mas no Brasil nem assim conseguiríamos [trabalhar]", diz. Frenchman Hill é dominada por dois idiomas, o inglês, oficial, e o português, devido aos garimpeiros.

Fonte: Fenpef/Folha de São Paulo

Brasileiros criam "cidade-garimpo" na Guiana Em Frenchman Hill, garimpeiros pagam propina a autoridades e fazem uso de laranjas para explorar ouro e diamante29/12/2007Atraídos pelo menor rigor na fiscalização ambiental, garimpeiros brasileiros criaram uma cidade, chamada Frenchman Hill (morro do francês), na Guiana, onde exploram ouro e diamante em meio à floresta.Pioneiro do grupo, Tibúrcio Valeriano de Andrade Neto, 52, diz que brasileiros pagam propina a autoridades da Guiana, usam nome de guianenses laranjas para garimpar e levam ao país "o jeitinho brasileiro".Para chegar a Frenchman Hill, são necessárias uma camioneta com tração nas quatro rodas e seis horas de viagem (a depender da demora das balsas para atravessar rios e da velocidade do motorista que, no caso da reportagem, chegou a 120 km/h). A estrada sem asfalto é a única que liga a capital Georgetown ao interior do país e à fronteira com o Brasil.A estrada parte de Lethem, cidade da Guiana, separada do município de Bonfim (RR) pelo rio Itacutu (primeira balsa da viagem). Duas horas de viagem depois, passa pela reserva ambiental Iwokrama, já na floresta amazônica. É na região de floresta que fica o garimpo.Alguns quilômetros à frente, após a travessia de balsa pelo rio Kurupukari, é preciso pegar, à esquerda, um braço da estrada. Trata-se de uma via estreita, tomada por poças de lama e pela mata fechada, que chega a fazer um túnel verde.

Vencidos 265 km, Frenchman Hill surge com 18 casas de madeira que servem ao comércio (lanchonete, armazéns, loja de roupas) e também um escritório da GGMC (Comissão de Geologia e Minas da Guiana), órgão governamental que fiscaliza a mineração.Barracas de garimpeiros estão espalhadas em volta, distribuídas em dezenas de áreas de garimpo que têm, cada uma, o tamanho equivalente a um campo de futebol e representam a devastação da floresta.Não há censo que aponte o número de garimpeiros brasileiros. Apenas Neto, o pioneiro do grupo, emprega 22 funcionários, que podem ganhar até R$ 2.000 por mês. Seu irmão, Cristino Pereira de Andrade, 48, diz que "são muito mais de cem brasileiros" por lá.Potaro-Siparuni, região onde está Frenchman Hill, possui 10 mil habitantes em 20.051 km2, ou seja, 0,5 por km2, segundo censo de 2002.Em cada área de garimpo, a floresta foi derrubada e os igarapés (riachos que nascem na mata e deságuam em rios) tiveram o curso desviado. Deles sai a água para remover a terra, com uso de dragas, na busca pelo ouro e diamante."Aqui existe [fiscalização ambiental] também, mas é um pouco mais largada", diz Edmundo Lomas, 35, comerciante que vende de "aparelho de barbear a arroz e prego" em sua mercearia. Ele diz que cobra 250% a mais em relação ao preço dos produtos no Brasil.Lomas confessa que paga propina para que a carga de mercadorias, trazida de Boa Vista (RR), possa chegar."Mesmo que a carga esteja 100% documentada, ainda arrumam um jeito de dar uma mordida. Todos os funcionários do governo daqui ganham um salário irrisório. Aí é preciso pagar [propina] R$ 10, R$ 20", afirma Lomas, que tem 40 clientes fixos brasileiros."Aqui há 13 anos já foi garimpo. Aí deu uma queda, o pessoal abandonou. Depois reativaram de novo, já tem uns dois anos, quando vim para cá", afirma Neto, que nasceu no Maranhão e passou por garimpos da Venezuela. "Aqui é mais tranqüilo. Existe propina também, mas é mais fácil de a gente combinar", diz o garimpeiro."Tem o dono da terra, e a gente tem que ter autorização do dono da terra [para garimpar. Estrangeiro não pode]. A gente dá o dinheiro. Ele [guianense] compra aquela área e a gente fica sócio dele, usando o nome dele, mas a gente não é dono", diz rindo Neto. "É um laranja", explica Lomas.Segundo Neto, que passa os fins de semana em Boa Vista (RR) com a mulher e o seis filhos, de 15 a 26 anos, o dono da terra fica com 10% da produção do garimpo. O valor da propina, diz Neto, chega a 100 gramas de ouro para os fiscais da Guiana."Aqui existe o jeitinho brasileiro.

Uma parte a gente não consegue cumprir, mas no Brasil nem assim conseguiríamos [trabalhar]", diz.

Frenchman Hill é dominada por dois idiomas, o inglês, oficial, e o português, devido aos garimpeiros
.Fonte: Folha de S. Paulo