Ouro Preto (MG), 23 de Maio de 2008
Os crescentes preços das commodities metálicas, puxados pela demanda sempre mais alta, têm estimulado o investimento em pesquisa mineral. Mineradoras e grupos siderúrgicos e metalúrgicos intensificam as buscas por boas áreas geológicas para a exploração dos mais variados minérios. Investidores também dedicam maior atenção ao setor.
"Muitos países, especialmente os emergentes, têm registrado crescimento expressivo no número de novos consumidores, o que exige sempre mais investimentos em infra-estrutura, habitação e bens de consumo como automóveis e produtos da linha branca", explicou Miguel Nery, diretor-geral do o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). De acordo com a autarquia, somente no ano passado foram aplicados US$ 365,9 milhões em pesquisa mineral, valor 20% superior ao gasto em 2006. Deste total, US$ 249,5 milhões foram aplicados em áreas com alvará de pesquisa (a primeira fase de estudos) e outros US$ 126,4 milhões em áreas com concessão de lavras. Tal valor indica uma intensificação no interesse por novas áreas, uma vez que normalmente quanto mais avançado o projeto, maior o volume de investimentos.
Entre os diversos tipos de metais, o ouro foi o que recebeu maior atenção por parte dos investidores, US$ 68,7 milhões, ou 29% do total, seguido por níquel, US$ 61,4 milhões, ou 24%. O terceiro na colocação foi a bauxita, com US$ 18,7 milhões, com apenas 7% do total.
O números foram divulgados no III Simpósio Brasileiro de Exploração Mineral (Simexmin), realizado esta semana. Durante a apresentação, Nery destacou que o volume é pequeno se considerado o valor mundial investido anualmente em pesquisa mineral, que em 2007 somou US$ 10,3 bilhões. "O Brasil responde por apenas 3% do investimento mundial", ressaltou.
Entre as justificativas para o relativo baixo investimento está a dificuldade para obter as autorizações necessárias junto às autoridades..... "A Vale tem reduzido programas de sondagem devido a dificuldades com licenciamento", justificou Eduardo Ledsham, diretor de desenvolvimento de projetos minerais da Companhia Vale do Rio Doce (Vale).
No ano passado, a companhia investiu US$ 120 milhões na exploração mineral, US$ 58 milhões para a realização de estudos conceituais de pré-viabilidade e de viabilidade para o desenvolvimento de depósitos minerais já identificados, em todo o mundo.
De fato, a DNPM tem encontrado dificuldade para atender às crescentes demanda por requerimentos de pesquisa, pedidos de alvará ou de concessão de lavra. Em 2007 foram protocolados 23,5 mil requerimentos de pesquisa , mas somente 13,9 mil alvarás foram publicados. "Estamos limitados pela capacidade operacional, mas em junho entrará em operação novos sistemas de plataforma eletrônica para suportar a operação", revelou Nery. Há três anos a autarquia trabalha na modernização do processo de solicitação, projeto que exigiu investimentos de R$ 6 milhões em sistemas de software e em hardware, entre outros gastos. "Aos poucos vamos reduzir nosso passivo e poderemos aumentar nossos esforços na fiscalização, e controlar melhor os inadimplentes", afirmou o executivo do DNPM. Previsão de alta Para este ano, o DNPM poderá ter maior volume de trabalho e o País poderá elevar sua participação entre os países com maior volume de investimento. A Vale aplicará o dobro do ano anterior, US$ 349 milhões no programa de exploração mineral, informou a companhia sem destacar quanto será realizado no País.
Além do Brasil, a Vale possui pesquisa mineral no Chile, Peru, Moçambique, Angola, Gabão, Argentina, Mongólia, Austrália, China, Índia, Cazaquistão, Venezuela, Colômbia, Canadá, África do Sul, Rússia, Guiné, Finlândia, Indonésia, República Democrática do Congo, Vietnã, Guatemala, Filipinas. Entre os principais minerais pesquisados estão cobre, ferro, urânio, manganês, carvão, níquel, bauxita, diamante, fosfato e potássio. A Votorantim Metais também está ampliando investimentos em pesquisa mineral. A empresa deve aplicar US$ 85, 4 milhões em atividades de pesquisa, acima dos US$ 49,2 milhões. "Conforme os projetos evoluem, o volume de recursos nas pesquisas cresce muito", explicou o diretor de exploração da empresa, Jones Belther. De acordo com ele, atualmente existem 68 projetos em andamento, em sete países: Brasil, Bolívia, Canadá, Colômbia, México, Peru e Argentina. Do total, cerca de 30% serão aplicados no exterior. Em 2007 os projetos internacionais receberam 23% "Não reduzimos os investimentos no Brasil, é que ampliamos no exterior", justificou. Além das grandes empresas brasileiras, crescem no mercado novas empresas, de capital estrangeiro ou nacional. Atualmente existem no País 53 empresas de capital canadense, desenvolvendo 176 projetos de mineração. No Canadá proliferam as empresas de investimento em mineração, que levantam recursos abrindo capital na Bolsa de Valores de Toronto (TSE). É o caso por exemplo da Yamana Gold, empresa fundada em 2003 e que atualmente possui quatro minas em operação no Brasil, e outras duas em desenvolvimento, além de atuação na Argentina, Chile, México, Honduras e Estados Unidos. De acordo com o vice presidente de exploração, Darcy Marud, a empresa prevê investir US$ 84 milhões em seus projetos de exploração. No Brasil a empresa está estudando a mina de Santa Cruz, Ernesto e Pau a Pique. "Nosso objetivo é atingir produção de 2,2 milhões de onças equivalente até 2012", disse. A experiência de geólogos brasileiros em descobertas passadas também tem atraído a atenção de capital nacional. Após deixar o setor de telefonia, o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, apostou suas fichas na mineração. O banco detém 62% da empresa Global Miner Exploration (GME4), na qual o geólogo baiano João Carlos Cavalcanti possui 20%. Foi ele quem desenvolveu o projeto da mina de Caetité, na Bahia, acertando depois o seu desenvolvimento ao criar a Bahia Mineração (BML) e vender 70% da empresa para um investidor estrangeiro. No início de maio, a mineradora Eurasian Natural Resources Corporation (ENRC) anunciou a compra de 50% da Bahia Mineração por US$ 300 milhões, o que significa uma valorização de aproximadamente seis vezes, já que em 2005, quando começou a estruturar o projeto, estimava-se um valor de US$ 100 milhões. "Em 2004 achavam o projeto de Caetité nebuloso, fantasioso, a compra confirmou que era um projeto sério", disse Cavalcanti. "Que muitos outros projetos nossos sigam esse caminho", afirmou o empresário, que ambiciona ser o maior banco de oportunidades minerais até 2010. Atualmente a empresa, que completa um ano em junho, possui 1,2 mil áreas com alvará para pesquisa, em 10 estados, 90% adquiridas diretamente, mas algumas negociadas com os proprietários dos alvarás. "Queremos agora ampliar as parcerias", disse o geólogo Caio Jatobá, diretor de novos negócios e outro dos sócios.
Os executivos não revelam quanto já investiram, mas declaram que devem aplicar R$ 40 milhões neste ano na pesquisa de metais básicos e preciosos. O primeiro negócio deve sair até o final deste ano. Cavalcanti esteve recentemente na China, onde ofertou um projeto em Goiás para a produção de refratários básicos, magnésio metálico, carbonetos e clínquer que tem porte para exportação. De acordo com Cavalcanti, o projeto, que prevê a criação de um complexo minero-siderúrgico e infra-estrutura logística, deve exigir investimentos de aproximadamente US$ 1 bilhão.
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 5)(Luciana Collet - A jornalista viajou a convite da GME4)