São Paulo e Salvador, 15 de Agosto de 2008 -
O crescimento econômico acelerado e o desenvolvimento sempre maior do potencial de produção de minério de ferro têm estimulado investidores nacionais e internacionais a aplicar recursos na construção de novas usinas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. "Há dois movimentos, um liderado pela Vale, que tem como motivação processar seu minério, outro liderado pela Gerdau, que tem como objetivo atender o crescimento da demanda", afirmou Marcos Barbieri, pesquisador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (Neit) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
De acordo com o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), a produção total do Nordeste foi de 814 mil toneladas de aço bruto e representou apenas 2,4% da produção nacional. Mas os novos investimentos previstos, que somam US$ 22 bilhões, entre projetos anunciados e em estudo, devem ampliar a participação das duas regiões no total produzido no País. De fato, a Companhia Vale do Rio Doce, que prevê produzir este ano 325 milhões de toneladas de minério de ferro, possui no Pará capacidade para 100 milhões de toneladas, na serra Norte de Carajás. Atualmente a empresa já está investindo US$ 2,5 bilhões para ampliar a capacidade para 130 milhões de toneladas no local.
Além disso, começou a aplicar mais US$ 10 bilhões para desenvolver o que afirma ser o maior projeto de minério de ferro do mundo: a Carajás Serra Sul, que terá capacidade para produzir 90 milhões de toneladas. Hoje o minério produzido no Pará é praticamente todo voltado para exportação. Mas há alguns anos a Vale tem buscado parceiros para garantir o consumo de parte da produção paraense dentro do Brasil. Estudava com a chinesa Baosteel a construção de uma usina em São Luís, no Maranhão.
O projeto previa a instalação de uma siderúrgica ao lado do Porto de Itaqui, que recebe o minério transportado pela Estrada de Ferro Carajás, mas a instalação acabou sendo transferida para o Espírito Santo. Agora a companhia anuncia a construção de uma usina siderúrgica em Marabá (PA), mesmo sem a definição de um parceiro. Com custo estimado em US$ 3,3 bilhões, a usina terá capacidade para produzir 2,5 milhões de toneladas anuais de bobinas laminadas a quente, chapas grossas e tarugos e é uma resposta à pressão dos governos estadual e federal para que se criasse um pólo minero-siderúrgico na região. "Existe uma vontade grande do governo de impulsionar investimentos no Norte e Nordeste.
O Pará é extremamente rico em minerais, que exporta ou transporta para outras regiões para serem transformados", afirmou Ronaldo Valeño, sócio da PricewaterhouseCoopers. "A construção de uma siderúrgica, além de proporciona crescimento sustentável para o estado, com a criação de empregos e a atração da cadeia produtiva", completou. Além da Vale, também a Companhia Siderúrgica do Pará (Cosipar), produtora de ferro-gusa , já anunciou planos para a construção de uma usina. A unidade seria construída em parceria com a chinesa Minmetals Corporation. O projeto, estimado em US$ 2 bilhões, previa ter junto à Usipar, unidade de ferro-gusa a carvão mineral do grupo, uma aciaria com produção anual de 2 milhões de toneladas de placas a partir de 2012. Maranhão busca alternativa O Maranhão, que perdeu a chance de acolher a usina da Vale com a Baosteel, agora aguarda com grande expectativa a Companhia Siderúrgica de Mearim (CSM). O projeto pertence à carioca Aurizônia, e tem previsão de investimentos de pelo menos US$ 5 bilhões para uma usina que terá capacidade para 10 mil toneladas de aços planos ao ano, voltados principalmente para exportação.
O início da obra depende, basicamente, de licenciamento ambiental, que segundo o superintendente de metalurgia da Secretaria de Indústria e Comércio do Maranhão, Sérgio Antônio Guimarães, está prestes a ser concedida, liberando as obras já a partir do próximo mês. Também restam algumas definições por parte da Aurizônia, que ainda não anunciou se investimento e gestão serão inteiros seus ou se contará com algum parceiro nacional ou estrangeiro. O maior ganho para o Maranhão não virá diretamente da CSM, já que a Lei Kandir isenta de impostos produtos voltados para a exportação e não garante, por essa via, maior arrecadação ao estado ou município. "Um empreendimento deste porte atrai investimentos satélites, empresas prestadoras de serviço, de bens, insumos, alimentação, vigilância e tantos outros. Serão estes que pagarão impostos e gerarão novos empregos", disse Guimarães. Na contramão do desenvolvimento do estado, a CSM será implantada no município de Bacabeira, região movida por uma pequena economia de agricultura e pecuária, enquanto todos os investimentos se concentram na capital, São Luís, localizada a 50 quilômetros dali. A previsão é que a siderúrgica gere 5 mil empregos, além de outros 10 mil postos indiretos.
"O Maranhão tem um porto de proporções excepcionais, é o ponto mais próximo da costa dos Estados Unidos e da Europa, todo o minério de Carajás passa por aqui. É um ponto extremamente favorável para uma siderúrgica", ponderou o superintendente da secretaria do estado. "Mais da metade de nossa população vive abaixo da linha da miséria. Um empreendimento destes tem potencial para elevar o padrão de vida de um estado." Atendimento ao mercado Nos estados nordestinos mais ao leste, a atração de investimentos está mais relacionada ao aumento do consumo de aço, impulsionado pelo crescimento de renda da região. A Gerdau anunciou semana passsada que está estudando investir US$ 400 milhões em uma unidade para a produção de 1 milhão de toneladas de vergalhões, destinado à construção civil. A previsão é que após a entrada em operação, prevista para 2011, a usina gere 800 vagas de trabalho permanentes e envolva mais de 3 mil prestadores de serviços. Além disso, mais de 2 mil empregos deverão ser gerados durante a construção da unidade industrial. Atualmente a companhia de origem gaúcha possui três unidades na região Nordeste, onde mantém a Gerdau Usiba (BA), Gerdau Açonorte (PE) e Gerdau Cearense (CE). O grupo informou que futuras expansões para suas usinas siderúrgicas na Bahia e no Ceará estão em estudos e não há nada definido até o momento. A Bahia avalia porém a possibilidade de uma nova unidade do grupo. Na estado, a Usiba, localizada na região metropolitana de Salvador, produziu no ano passado 389 mil toneladas de aço bruto, o que representou 47,7% da produção nordestina. Segundo uma fonte do governo baiano, o empreendimento vai depender, porém, do êxito da prospecção de minério de ferro na região de Jussiape, na Chapada Diamantina.
O grupo requereu autorização ao Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) e está investindo R$ 20 milhões em pesquisas na jazida local. A iniciativa faz parte de um plano estratégico da Gerdau. A empresa compra hoje 70% do minério que consome e pretende até 2010 inverter essa conta, buscando extrair de reservas próprias 80% de seu consumo de ferro, da ordem de 9,4 milhões de toneladas por ano. Com a demanda aquecida por commodities metálicas, que estimula a exploração mineral na Bahia, o objetivo do governo é verticalizar a produção do estado. O secretário de indústria, comércio e mineração, Rafael Amoedo, não descarta, em médio prazo, a consolidação de um pólo siderúrgico na região de Ilhéus, onde está sendo planejada a implantação de um complexo intermodal, reunindo porto, aeroporto e ferrovia, além de uma zona de processamento de exportação (ZPE). O novo terminal marítimo a ser construído, Porto Sul, deverá inicialmente escoar a produção da Bahia Mineração, que deve investir US$ 1,5 bilhão para produzir 25 milhões de toneladas de ferro por ano, em Caetité. O projeto prevê a instalação do complexo de mineração até 2010, quando, acredita o secretário, também será inaugurado o primeiro trecho da ferrovia Oeste-Leste, que transportaria o minério até o novo porto. Com a infra-estrutura a ser implantada, Amoedo não tem dúvida sobre a atração de novos empreendimentos e a consolidação do pólo siderúrgico. Além da Gerdau, também a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) já informou que estuda investir em uma unidade na região. Entre os estados que a empresa avaliava estava o Ceará, o Rio Grande do Norte e Pernambuco, mas este último tentou tomar a dianteira. O governo do estado chegou a informar que a empresa havia optado pelo Complexo Industrial de Suape, onde investiria US$ 6 bilhões para produzir 3,5 milhões de toneladas de aços laminados.
O início das obras seria 2009 e as operações começariam em 2012. A empresa negou a informação, mas informou que continua estudando construir uma usina no Nordeste.(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(Luciana Collet, Juliana Elias, José Pacheco