domingo, 31 de agosto de 2008

Novo submarino explorará 99% do solo oceânico


William J. Broad

As profundezas aquáticas são lendárias pela escuridão retinta. William Beebe, a primeira pessoa que as definiu como "o abismo", definia o estado como "noite perpétua".

A escuridão é acompanhada por pressão intensa. A 6,5 km de profundidade, esta equivale a cerca de 800 kg/cm². É demais até mesmo para Alvin, o mais famoso dos pequenos submersíveis mundiais, capaz de conduzir um piloto e dois cientistas a uma profundidade máxima de 4,5 km.

Mas há um novo submersível em construção em Cudahy, no Wisconsin, que até mesmo em seu processo de construção parece estar repudiando a escuridão. O trabalho iluminava o galpão imenso de uma fábrica, em visita recente. Chamas avermelhadas e alaranjadas brotavam em meio a chuveiros de faíscas, enquanto o metal incandescente era lentamente forçado a ceder às demandas do projeto do submersível.

"Impressionante", disse Tom Furman, engenheiro sênior da Ladish Forging, depois que uma grande prensa comprimiu um disco de metal quente de 3,3 m, fazendo com que a delicada manipulação parecesse tão simples quanto mudar um pote de margarina de lugar.
O novo veículo deve substituir o Alvin, que foi o primeiro submersível capaz de iluminar os destroços enferrujados do Titanic e o primeiro a conduzir cientistas às profundezas para descobrir os bizarros ecossistemas dos vermes gigantes e outras estranhas criaturas que prosperam nas águas frias e gélidos do fundo dos oceanos.

Os Estados Unidos costumavam operar diversos submersíveis - pequenos submarinos que conseguem mergulhar a extraordinárias profundidades. Só resta o Alvin, e depois de mais de quatro décadas vasculhando as profundezas o momento da aposentadoria está próxima.
O substituto, que está sendo construído ao custo de US$ 50 milhões, vai mergulhar mais fundo, se mover mais rápido, se manter mais tempo submerso, penetrar melhor a escuridão, carregar mais equipamento científico e possivelmente - mas ninguém pode estar certo disso - dar início a uma nova era de exploração marítima.

Os criadores da máquina, na Instituição Oceanográfica de Woods Hole, em Cape Cod, descrevem-na como "o mais capacitado dos veículos de pesquisa marinha profunda existentes no mundo".

O Alvin consegue carregar um piloto e dois cientistas a profundidades de até 4,5 km, o que oferece acesso a 62% do leito oceânico mundial. O novo veículo deve descer a mais de 6,5 km, o que permitiria que mais de 99% dos pisos oceânicos do planeta fossem investigados.
Mas a profundidade maior significa que a esfera de transporte de pessoal do veículo e seus muitos outros sistemas estariam sujeitos a toneladas de pressão esmagadora.
"Tecnologicamente, é um grande desafio", disse Robert Detrick Jr., cientista sênior e vice-presidente de instalações e operações marinhas do instituto, sobre a construção da nova esfera de transporte de pessoal. "Também é algo que não é feito há muito tempo nos Estados Unidos".
Para melhor resistir à pressão do mar, as paredes da nova esfera de pessoal terão quase 7,5 cm de espessura, ante os cinco cm usados no Alvin. Os pesquisadores das profundezas sempre usam o formato esférico para alojar os tripulantes, porque essa é a forma geométrica que melhor resiste à pressão esmagadora.
"Temos confiança em que será possível fazê-lo", disse Detrick em janeiro, sobre o processo de forja da esfera. "Mas não teremos muita margem de erro. Caso o primeiro processo de forja fracasse, refazê-lo seria dispendioso demais".
O ar de incerteza pende sobre as equipes de engenheiros e oceanógrafos que se reuniram no final de julho na Ladish, que fica em Cudahy, comunidade que fica no subúrbio de Milwaukee.
O objetivo da companhia metalúrgica era transformar dois gigantescos discos de titânio - mais fortes e leves que o aço, e perfeitos para resistir às vastas pressões das profundezas - em hemisférios gêmeos.
Caso a forja tivesse sucesso, os hemisférios se acoplariam perfeitamente e poderiam ser soldados, criando o primeiro passo no processo de produção da esfera de pessoal e do submersível.
A Ladish, uma empresa com um galpão de cerca de 1,5 km de extensão, é um labirinto de fornos, forjas, prensas - versões gigantescas dos martelos usados por ferreiros para manipular o metal quente. Os funcionários usam capacetes, máscaras de segurança e, quando necessários, protetores de ouvidos.
"Cargas quentes proibidas", alerta um cartaz no caminho do grupo de visitantes pela fábrica. "Capacetes obrigatórios a partir daqui", avisa outro.
A estrela das instalações é a prensa hidráulica número 154, um mastodonte com altura equivalente a cinco andares. Há décadas seus operadores vêm avançando discretamente a agenda de exploração científica norte -americana, transformando lingotes de aço quente em revestimentos para foguetes.
Agora, os operadores estão preocupados com o espaço interior. No final de junho, depois de muitos preparativos e simulações em computadores, as sirenes soaram e eles mergulharam o aríete da prensa no titânio fervente, um disco de quase 15 cm de espessura e 3,3 m de diâmetro. Fumaça e chamas saltaram imediatamente.
"É preciso trabalhar rápido", disse Douglas Roberts, um gerente na Ladish, em meio aos fogos de artifício. "Uma peça grande assim se resfria rapidamente".
Em segundos a grande prensa transforma o disco radiante em uma enorme bacia. No dia seguinte, foi a vez da outra metade. Mesmo depois de uma hora se refrigerando, a grande bacia ainda irradiava ondas de calor.
"Saimo-nos muito bem", disse Furman, engenheiro chefe da Ladish, aos visitantes e executivos da fábrica.
O processo geral de forja, soldagem, corte, tratamento térmico, corte de portinholas de observação, acabamento metálico, acabamento final e teste da esfera de pessoal deve ser realizado por diversas empresas localizadas em muitas áreas do país, e levará dois anos. A cabine de pessoal concluída, com 2,10 m de diâmetro, terá 30 cm a mais de diâmetro que a do Alvin.
Os oceanógrafos acreditam que a nova esfera ajudará a abrir as profundezas do mar. O volume dela é 18% maior que o do Alvin, permitindo duas vezes mais espaço para equipamento científico e um pouquinho mais de conforto para os passageiros.
O Alvin tem três escotilhas grossas de observação pelas quais piloto e cientistas podem ver o mundo subaquático. O novo veículo terá cinco, ampliando o campo de visão e a chance de descobertas e de observação cuidadosa.
"Vai ser incrível", disse Cindy Van Dover, professora de biologia marinha na Universidade Duke que passou centenas de horas mergulhando no Alvin.
Ela apontou que os cientistas teriam duas janelas voltadas para a frente. Em contaste, o ponto de vista científico do Alvin é lateral; só o piloto vê o que existe à frente.
"Visão frontal é bom", ela disse, classificando o panorama como dramático, repleto de luzes e de ação.
Ela disse que a visão frontal poderia, por exemplo, revelar mais detalhes sobre as imensas fontes quentes que existem no fundo do mar, cercadas por formas exóticas de vida.
No Alvin, "o cientista não vê isso", ela disse. "Além disso, você quer saber de onde suas amostras estão sendo obtidas, e como. Desse modo, é possível orientar o piloto".
Detrick, de Woods Hole, disse que a forja da esfera de pessoal é um dos três grandes obstáculos técnicos. Os demais são a produção da espuma e dos bancos de baterias do veículo. A espuma precisa ser dura o bastante para resistir à pressão esmagadora mas ter flotabilidade suficiente para compensar o peso crescente do aparelho. E as baterias precisam ser incomumente robustas e poderosas.
Caso o processo tenha sucesso, as novas baterias permitirão que o veículo permaneça no fundo por até oito horas, ante as seis horas do Alvin.
Melhorias na propulsão do submersível, com vetores de empuxo mais fortes, permitirão velocidade maior. E as novas luzes e câmeras permitirão que penetre melhor a escuridão.
Mas, como o predecessor, o veículo completo não será maior que um caminhão pequeno.
Van Dover disse que uma das grandes vantagens seria a capacidade do veículo de mergulhar profundamente. "Profundidade importa", ela disse. "É difícil falar liricamente sobre o assunto, porque não sabemos o que existe lá. Não podemos garantir descobertas. Mas sabemos que, a cada vez que ampliamos nossa capacidade de ir a qualquer lugar, descobrimos coisas novas sobre como funciona o planeta e sobre como a vida no planeta se adapta".
O novo veículo deve também servir como fonte de orgulho para o país, e pode capturar a estima internacional porque cientistas estrangeiros participam de alguns mergulhos.
Os submersíveis também podem servir a objetivos geopolíticos. Um ano atrás, uma equipe russa caminhou até o Pólo Norte e mergulhou sob a camada de gelo em um submersível. Eles plantaram a bandeira russa no piso oceânico e, ao emergir, declararam que o ato havia reforçado a alegação russa de que cerca de metade do piso oceânico do Ártico é território do país.
Mas não se pode determinar ainda quando o substituto do Alvin se integrará à pequena frota mundial de submersíveis.
Como muitos projetos do governo federal, ele sofre de estouro de custos e de problemas de verba. Quando proposto inicialmente, em 2004, o custo projetado era de US$ 21,6 milhões. Mas os atrasos e o preço dos materiais, do planejamento e dos serviços contratados foram superiores ao previsto. Funcionários do governo dizem que o preço do titânio, por exemplo, quintuplicou no período.
A Fundação Nacional da Ciência dos Estados Unidos, agência federal que patrocina o projeto, tem muitas necessidades concorrentes a atender, e o custo estimado de US$ 50 milhões vai ser difícil de cobrir. Por isso, os funcionários do instituto de Woods Hole desenvolveram uma abordagem gradual que promete reduzir as despesas imediatas.
Em carta datada de 8 de agosto, Susan Avery, presidente do instituto, delineou o plano para Deborah Kelley, oceanógrafa da Universidade de Washington e diretora do comitê científico de exploração submarina profunda, uma equipe de pesquisadores que assessora o governo federal quanto a explorações marítimas.
A nova esfera de pessoal, ela afirma, poderia ser acoplada inicialmente ao corpo do Alvin, o que prolongaria a vida do velho submersível e reforçaria sua capacidade.
O Alvin também receberia novas baterias, novos equipamentos eletrônicos, luzes, sistemas de câmera e vídeo melhores. Mas o híbrido estaria limitado à profundidade de 4,5 km para o qual o Alvin está capacitado.
A segunda fase, afirma Avery, envolveria a construção do casco do novo submersível, que permitiria mergulhos até os 6,5 km de profundidade.
E quanto tempo isso vai demorar? O cronograma original de 2004 previa que o veículo substituto estaria pronto em 2008. No começo deste ano, em meio a crescentes incertezas, os responsáveis pelo cronograma adiaram o projeto para 2010.
Agora, a data de estréia do Alvin reformado será em 2011, e o novo submersível só estaria pronto em 2015, de acordo com o pessoal de Woods Hole.
"A fase 2 envolve obter recursos adicionais", disse Detrick. "É questão de dinheiro".
Os funcionários estimam um déficit de US$ 25 milhões e esperam que um doador privado ajude a cobrir a diferença e a garantir a estréia acelerada do novo submersível e de seu programa de pesquisa profunda.
Para exploradores como Van Dover, quanto antes melhor. "Podemos aplicar 40 anos de experiência e construi-lo bem. Isso é que é bonito sobre a experiência".
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times

terça-feira, 26 de agosto de 2008

AS NOVAS FRONTEIRAS DA MINERADORAS NO BRASIL

As novas fronteiras das mineradoras
Fonte: O Estado de S. Paulo 26/8/2008
A escalada no preço dos metais nos últimos anos deflagrou uma corrida de empresas nacionais e estrangeiras por novas fronteiras de exploração no Brasil. Na busca por reservas, despontam Estados como Bahia, que abriu na última quarta-feira uma grande licitação para reservas de minério de ferro, Goiás e Mato Grosso do Sul. Na semana passada, em apenas três dias de edital, gigantes como Vale, Arcelor Mittal, BHP Billiton, Anglo American e Votorantim já estavam inscritas para receber as informações preliminares dos depósitos da Bahia. O governo baiano até mudou sua estratégia para aproveitar o bom momento da mineração. "Até o ano passado, as ações de arrendamento partiam dos interessados. Resolvemos mudar a estratégia: criamos um grande pacote de áreas a serem licitadas.

Assim, despertamos o interesse e atraímos empresas do setor", diz Rafael Avena, diretor-técnico da Companhia Baiana de Propriedade Mineral (CBPM).
A CBPM decidiu ofertar 25 áreas para mineração entre 2007 e 2008. Desse total, nove já foram arrematadas e as outras 16 serão licitadas este ano. Na lista, além de minério de ferro, estão depósitos de níquel, ouro e cobre. As empresas vencedoras da concorrência têm prazo médio de três anos para apresentar os resultados de suas pesquisas geológicas e a viabilidade econômica da mina.
Os depósitos estão localizados, principalmente, no Norte da Bahia (a cerca de 550 km de Salvador), nas regiões de Sento Sé, Casa Nova, Remanso, Pilão Arcado e Campo Alegre de Lourdes. Até então, as principais reservas do minério estavam localizadas na região de Caetité, no sertão baiano. As mineradoras não gostam de comentar suas investidas em novas fronteiras, para não atrair a concorrência. O diretor executivo de Ferrosos da Vale, José Carlos Martins, revela, porém, que a empresa está avaliando as oportunidades na área de minério na Bahia. "A Vale está avaliando as oportunidades. Mas a Vale só entra em projetos que se enquadrem no tamanho da empresa. É preciso ter escala. Outro ponto que tem de ser avaliado é a logística daquela região", diz. Um bom exemplo de busca por novas fronteiras na Bahia é a Mirabela Mineração, companhia de capital nacional e australiano. A empresa inicia no ano que vem a produção de ferro-níquel do projeto Santa Rita, localizado no município de Itagibá, a 370 km de Salvador. O local é apontado como a maior jazida de níquel sulfetado da América Latina, com vida útil estimada em mais de 20 anos. A meta é produzir 147 mil toneladas/ano de concentrado de níquel. O projeto tem orçamento de US$ 225 milhões. Novas prospecções de níquel estão sendo realizadas pela Mirabela nas cidades de Palestina (BA) e Aracaju (SE).
O ritmo com que a mineração avança na Bahia pode levá-la, em quatro anos, ao terceiro lugar no ranking dos maiores produtores nacionais, desbancando São Paulo, que tem forte presença na área de produtos minerais voltados para a construção civil (como areia e brita). A avaliação é feita por Marcelo Tunes, diretor de Recursos Minerais do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
"A Bahia receberá nos próximos quatro anos mais de US$ 2 bilhões em investimentos no setor mineral, principalmente na mineração de ouro, ferro, níquel e cobre. Isso quer dizer que é possível que o Estado chegue, sim, a ser o terceiro maior produtor do País", diz Tunes.
A liderança no ranking deve ser mantida por Minas Gerais, que tem um dos territórios com maior diversificação mineral do mundo. O segundo lugar também dificilmente será tirado do Pará, que abriga a gigantesca mina de Carajás.
Na briga pelo terceiro lugar surge ainda o Estado de Goiás. A região, rica em níquel, tem diversas áreas sob a avaliação de empresas nacionais e estrangeiras. Os estudos estão concentrados no Noroeste do Estado, em cidades como Catalão, Barro Alto e Niquelândia. De acordo com o Ibram, o Estado deve receber, apenas na área de níquel, investimentos que ultrapassam US$ 2 bilhões até 2011. A busca pelo aumento rápido nos volumes de produção de minério fez com que minas ainda pouco exploradas ganhassem novo perfil. A região de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, ressurge como um dos principais destinos de investimentos. O governo estadual fala em US$ 4 bilhões em investimentos. Entre eles estão projetos como o da Rio Tinto, que planeja investir US$ 2,15 bilhões na expansão da sua mina de minério de ferro na cidade. A Arcelor Mittal, maior siderúrgica do mundo, acaba de comprar a mineração Pirâmide para produzir minério de ferro. E a MMX, de Eike Batista, pretende investir US$ 62 milhões para permitir que a produção salte das atuais 2,1 milhões de toneladas/ano de minério de ferro para 6,3 milhões de toneladas/ano em 2012.

As imagens destes satélites são inteiramente gratuitas (não tarifadas).

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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Norte e Nordeste atraem mais investimentos siderúrgicos

GAZETA MERCANTIL
São Paulo e Salvador, 15 de Agosto de 2008 -

O crescimento econômico acelerado e o desenvolvimento sempre maior do potencial de produção de minério de ferro têm estimulado investidores nacionais e internacionais a aplicar recursos na construção de novas usinas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. "Há dois movimentos, um liderado pela Vale, que tem como motivação processar seu minério, outro liderado pela Gerdau, que tem como objetivo atender o crescimento da demanda", afirmou Marcos Barbieri, pesquisador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (Neit) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
De acordo com o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), a produção total do Nordeste foi de 814 mil toneladas de aço bruto e representou apenas 2,4% da produção nacional. Mas os novos investimentos previstos, que somam US$ 22 bilhões, entre projetos anunciados e em estudo, devem ampliar a participação das duas regiões no total produzido no País. De fato, a Companhia Vale do Rio Doce, que prevê produzir este ano 325 milhões de toneladas de minério de ferro, possui no Pará capacidade para 100 milhões de toneladas, na serra Norte de Carajás. Atualmente a empresa já está investindo US$ 2,5 bilhões para ampliar a capacidade para 130 milhões de toneladas no local.

Além disso, começou a aplicar mais US$ 10 bilhões para desenvolver o que afirma ser o maior projeto de minério de ferro do mundo: a Carajás Serra Sul, que terá capacidade para produzir 90 milhões de toneladas. Hoje o minério produzido no Pará é praticamente todo voltado para exportação. Mas há alguns anos a Vale tem buscado parceiros para garantir o consumo de parte da produção paraense dentro do Brasil. Estudava com a chinesa Baosteel a construção de uma usina em São Luís, no Maranhão.

O projeto previa a instalação de uma siderúrgica ao lado do Porto de Itaqui, que recebe o minério transportado pela Estrada de Ferro Carajás, mas a instalação acabou sendo transferida para o Espírito Santo. Agora a companhia anuncia a construção de uma usina siderúrgica em Marabá (PA), mesmo sem a definição de um parceiro. Com custo estimado em US$ 3,3 bilhões, a usina terá capacidade para produzir 2,5 milhões de toneladas anuais de bobinas laminadas a quente, chapas grossas e tarugos e é uma resposta à pressão dos governos estadual e federal para que se criasse um pólo minero-siderúrgico na região. "Existe uma vontade grande do governo de impulsionar investimentos no Norte e Nordeste.

O Pará é extremamente rico em minerais, que exporta ou transporta para outras regiões para serem transformados", afirmou Ronaldo Valeño, sócio da PricewaterhouseCoopers. "A construção de uma siderúrgica, além de proporciona crescimento sustentável para o estado, com a criação de empregos e a atração da cadeia produtiva", completou. Além da Vale, também a Companhia Siderúrgica do Pará (Cosipar), produtora de ferro-gusa , já anunciou planos para a construção de uma usina. A unidade seria construída em parceria com a chinesa Minmetals Corporation. O projeto, estimado em US$ 2 bilhões, previa ter junto à Usipar, unidade de ferro-gusa a carvão mineral do grupo, uma aciaria com produção anual de 2 milhões de toneladas de placas a partir de 2012. Maranhão busca alternativa O Maranhão, que perdeu a chance de acolher a usina da Vale com a Baosteel, agora aguarda com grande expectativa a Companhia Siderúrgica de Mearim (CSM). O projeto pertence à carioca Aurizônia, e tem previsão de investimentos de pelo menos US$ 5 bilhões para uma usina que terá capacidade para 10 mil toneladas de aços planos ao ano, voltados principalmente para exportação.

O início da obra depende, basicamente, de licenciamento ambiental, que segundo o superintendente de metalurgia da Secretaria de Indústria e Comércio do Maranhão, Sérgio Antônio Guimarães, está prestes a ser concedida, liberando as obras já a partir do próximo mês. Também restam algumas definições por parte da Aurizônia, que ainda não anunciou se investimento e gestão serão inteiros seus ou se contará com algum parceiro nacional ou estrangeiro. O maior ganho para o Maranhão não virá diretamente da CSM, já que a Lei Kandir isenta de impostos produtos voltados para a exportação e não garante, por essa via, maior arrecadação ao estado ou município. "Um empreendimento deste porte atrai investimentos satélites, empresas prestadoras de serviço, de bens, insumos, alimentação, vigilância e tantos outros. Serão estes que pagarão impostos e gerarão novos empregos", disse Guimarães. Na contramão do desenvolvimento do estado, a CSM será implantada no município de Bacabeira, região movida por uma pequena economia de agricultura e pecuária, enquanto todos os investimentos se concentram na capital, São Luís, localizada a 50 quilômetros dali. A previsão é que a siderúrgica gere 5 mil empregos, além de outros 10 mil postos indiretos.

"O Maranhão tem um porto de proporções excepcionais, é o ponto mais próximo da costa dos Estados Unidos e da Europa, todo o minério de Carajás passa por aqui. É um ponto extremamente favorável para uma siderúrgica", ponderou o superintendente da secretaria do estado. "Mais da metade de nossa população vive abaixo da linha da miséria. Um empreendimento destes tem potencial para elevar o padrão de vida de um estado." Atendimento ao mercado Nos estados nordestinos mais ao leste, a atração de investimentos está mais relacionada ao aumento do consumo de aço, impulsionado pelo crescimento de renda da região. A Gerdau anunciou semana passsada que está estudando investir US$ 400 milhões em uma unidade para a produção de 1 milhão de toneladas de vergalhões, destinado à construção civil. A previsão é que após a entrada em operação, prevista para 2011, a usina gere 800 vagas de trabalho permanentes e envolva mais de 3 mil prestadores de serviços. Além disso, mais de 2 mil empregos deverão ser gerados durante a construção da unidade industrial. Atualmente a companhia de origem gaúcha possui três unidades na região Nordeste, onde mantém a Gerdau Usiba (BA), Gerdau Açonorte (PE) e Gerdau Cearense (CE). O grupo informou que futuras expansões para suas usinas siderúrgicas na Bahia e no Ceará estão em estudos e não há nada definido até o momento. A Bahia avalia porém a possibilidade de uma nova unidade do grupo. Na estado, a Usiba, localizada na região metropolitana de Salvador, produziu no ano passado 389 mil toneladas de aço bruto, o que representou 47,7% da produção nordestina. Segundo uma fonte do governo baiano, o empreendimento vai depender, porém, do êxito da prospecção de minério de ferro na região de Jussiape, na Chapada Diamantina.

O grupo requereu autorização ao Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) e está investindo R$ 20 milhões em pesquisas na jazida local. A iniciativa faz parte de um plano estratégico da Gerdau. A empresa compra hoje 70% do minério que consome e pretende até 2010 inverter essa conta, buscando extrair de reservas próprias 80% de seu consumo de ferro, da ordem de 9,4 milhões de toneladas por ano. Com a demanda aquecida por commodities metálicas, que estimula a exploração mineral na Bahia, o objetivo do governo é verticalizar a produção do estado. O secretário de indústria, comércio e mineração, Rafael Amoedo, não descarta, em médio prazo, a consolidação de um pólo siderúrgico na região de Ilhéus, onde está sendo planejada a implantação de um complexo intermodal, reunindo porto, aeroporto e ferrovia, além de uma zona de processamento de exportação (ZPE). O novo terminal marítimo a ser construído, Porto Sul, deverá inicialmente escoar a produção da Bahia Mineração, que deve investir US$ 1,5 bilhão para produzir 25 milhões de toneladas de ferro por ano, em Caetité. O projeto prevê a instalação do complexo de mineração até 2010, quando, acredita o secretário, também será inaugurado o primeiro trecho da ferrovia Oeste-Leste, que transportaria o minério até o novo porto. Com a infra-estrutura a ser implantada, Amoedo não tem dúvida sobre a atração de novos empreendimentos e a consolidação do pólo siderúrgico. Além da Gerdau, também a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) já informou que estuda investir em uma unidade na região. Entre os estados que a empresa avaliava estava o Ceará, o Rio Grande do Norte e Pernambuco, mas este último tentou tomar a dianteira. O governo do estado chegou a informar que a empresa havia optado pelo Complexo Industrial de Suape, onde investiria US$ 6 bilhões para produzir 3,5 milhões de toneladas de aços laminados.
O início das obras seria 2009 e as operações começariam em 2012. A empresa negou a informação, mas informou que continua estudando construir uma usina no Nordeste.(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(Luciana Collet, Juliana Elias, José Pacheco

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

MALARIA , como funciona - Novo processo de produção é arma contra a malária

Novo processo de produção é arma contra a malária
Por Celira Caparica
08/08/2008
Artemisinina, que é uma matéria-prima para fabricar medicamentos contra a malária, poderá ser obtida por processos similares aos de produção do álcool, isto é, através de bioreatores de fermentação. A idéia é produzí-la em larga escala para ajudar a resolver o problema da malária que aflige milhões de pessoas em todo mundo.
A novidade é o uso de bioreatores gigantes que produzirão um precursor, o ácido artemísico, que é depois transformado em artemisinina, em escala industrial. O processo de fabricação dessa matéria-prima, que é análogo ao descrito em um
artigo da Nature de 2006,usa um fermento geneticamente modificado, isto é, com uma inserção de genes.
Segundo a química do CPQBA da Unicamp, Mary Ann Foglio, o uso desse processo de fermentação, que usa o microorganismo Sacaromises serevises genéticamente modificado, “pode ser uma ótima idéia”, mas ainda não está bem estabelecido. O pulo-do-gato seria a obtenção de um medicamento à base dos derivados da artemisinina, numa dose única via oral. Isso porque a maior porcentagem de indivíduos infectados pelo agente causador da malária, o protozoário Plasmodium vivax ou P. falciparum, encontra-se em regiões tropicais de difícil acesso, o que exige que o medicamento, por muitas vezes, leve dias para chegar ao destino.
Foglio destaca que a artemisinina hoje já pode ser produzida, no Brasil, com 98% de pureza, a um custo de aproximadamente um dólar por grama. Nessa avaliação de custo, segundo a pesquisadora, já estão incluídos os gastos que se iniciam com o cultivo da planta, uma vez que o processo se baseia na extração dessa substância a partir das folhas (as flores não contem artemisinina) de uma planta de origem chinesa chamada Artemesia annua L. ”A idéia de se usar esse processo fermentativo é ótima, desde que realmente se consiga que o custo global seja inferior aos preços observados para o isolamento do composto diretamente da planta, que é de dois dólares o grama do produto final”.
O procedimento brasileiro, segundo Foglio, é um processo barato e ecologicamente viável. A equipe, por exemplo, já
comprovou que o resíduo da extração da artemisinina apresenta inibição de lesões ulcerativas quando avaliado em modelos experimentais em animais. A cada 100 quilos de planta seca é produzido um quilo de artemisinina, uma quantidade suficiente para os casos de malária mais graves causados pelo Plasmodium falciparum do Brasil, sem levar em conta os outros produtos que também apresentem atividade medicinal. Além disso, os projetos que se desenvolvem dentro da universidade permitem capacitar recursos humanos em todos os níveis para trabalhar nessa área.
Tecnicamente, medicamento é diferente de remédio. Um remédio não tem parâmetros confirmados, mas um medicamento precisa de um controle de qualidade capaz de assegurar ao consumidor que o produto tem eficácia, isto é, tem o efeito desejado, é seguro e que todas as unidades são rigorosamente iguais.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, 99,9% dos casos de malária se concentram na Amazônica legal e as ações desenvolvidas em todas as esferas governamentais têm conseguido que os
casos sejam reduzidos.
A prevenção da doença começa com o uso de telas nas portas e nas janelas das casas. No período noturno, o mosquiteiro é indicado, ou ainda, o uso dos repelentes de insetos, porque, durante o sono, o mosquito transmissor do protozoário ataca sem ser afastado pelo homem. Já no dia-a-dia, recomenda-se o uso de roupas que protejam pernas e braços. Assim como no caso da dengue, para a malária também existem medidas de prevenção coletiva. Estas medidas visam à eliminação dos criadouros do vetor através de saneamento e gestão do lixo.
Saiba mais:
Malaria: a miracle in the making offers hope to millions worldwideScientist of the Year: Jay Keasling



Como funciona a malária
por
Sherry Kahn -

traduzido por HowStuffWorks Brasil


Suponha que você está em férias de verão na praia observando o pôr do sol e os mosquitos estão zumbindo. Você pode ser picado algumas vezes e sentir-se desconfortável com a coceira das picadas. Mas, se você for uma mãe na África tropical, um mosquito é um dos seus maiores medos, pois ele pode transmitir malária. Neste artigo, aprenderemos sobre esta doença grave e freqüentemente fatal, e descobriremos por que ela é uma das questões de saúde pública mais preocupantes do mundo.
Malária é uma infecção transmitida por um determinado tipo de mosquito. Ela é uma doença que atinge principalmente áreas tropicais na África, Ásia, Américas Central e do Sul, Oriente Médio e Oceania. Hoje em dia a malária está espalhada por mais de 100 países, afetando cerca de 300 milhões de pessoas, causando 1 milhão de mortes por ano. Mais de 90% dos casos ocorrem na África tropical, com maior incidência em crianças e mulheres grávidas. Na África, a malária é a principal causa de morte em crianças menores de cinco anos.

Globalmente, mais de 2 bilhões de pessoas estão em risco de contrair malária, sendo que a maioria dos casos ocorre entre os 20% mais pobres da população mundial. Nessas áreas pobres e freqüentemente rurais, os sistemas de saúde são inadequados e o saneamento é ineficaz. O aumento na resistência aos medicamentos usados para tratar a malária e aos inseticidas usados para preveni-la também contribuem com a crescente prevalência da doença e seu reaparecimento em áreas onde já havia sido eliminada.
Fonte:
Roll Back Malaria Partnership (em inglês)

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, 99,5% do total de casos de malária são registrados na Amazônia Legal, composta pelos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.O desmatamento para extração de madeira, criação de gado, agricultura e assentamentos não oficiais são fatores que contribuem para o aumento da transmissão da doença. Outro fator colaborador é o aumento dos criadouros do mosquito vetor da malária em função da atividade de piscicultura, com a construção de tanques artificiais, seja nos quintais dos domicílios ou nas periferias de diversas cidades da região Amazônica. [Fonte:
Ministério da Saúde]
Causas da malária

A malária é causada por organismos parasíticos e unicelulares chamados de Plasmodium. Como a gripe aviária, a malária é uma doença vetorial, na qual o organismo infectante é transportado por um portador animal intermediário. No caso da malária, a doença é transmitida por mosquitos, mas apenas mosquitos fêmeas do gênero Anopheles.

Foto cedida por Jim Gathany/CDCUm mosquito fêmea (Anopheles gambiae), alimentando-seExistem quatro tipos de malária: Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum, Plasmodium malariae, e Plasmodium ovale. P. vivax and P. falciparum são os tipos mais comuns. O P. falciparum, encontrado por toda a África, Ásia e América Latina tropicais, é o mais comum.
O mosquito apanha o parasita quando pica e extrai sangue de pessoas infectadas. Os parasitas se reproduzem enquanto o mosquito usa o sangue para nutrir os seus ovos. Quando o mosquito pica um humano novamente, os parasitas são passados para o sangue daquela pessoa. Assim que entram no corpo, os parasitas se multiplicam rapidamente no fígado e nas células vermelhas do
sangue. A partir daí, os parasitas podem invadir outros órgãos, incluindo o cérebro.
A malária pode ser transmitida de pessoa para pessoa por transfusão de sangue infectado e por seringas e agulhas infectadas. Em áreas onde a doença é comum, as pessoas são infectadas tantas vezes que elas desenvolvem um grau de imunidade adquirida e não apresentam nenhum sintoma.

Elas podem espalhar a doença através do sangue sem perceber. Mulheres grávidas também podem passar os parasitas durante a gravidez ou parto.
Aprenderemos sobre os sintomas, diagnóstico, tratamento e prevenção da malária na próxima seção.
Malaria is caused by a parasite called Plasmodium, which is transmitted via the bites of infected mosquitoes. In the human body, the parasites multiply in the liver, and then infect red blood cells.
Symptoms of malaria include fever, headache, and vomiting, and usually appear between 10 and 15 days after the mosquito bite. If not treated, malaria can quickly become life-threatening by disrupting the blood supply to vital organs. In many parts of the world, the parasites have developed resistance to a number of malaria medicines.
Key interventions to control malaria include: prompt and effective treatment with artemisinin-based combination therapies; use of insecticidal nets by people at risk; and indoor residual spraying with insecticide to control the vector mosquitoes.

Malária: dos sintomas à prevenção
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