publicado em 29/fev/2012 às 17h36 |
Pesquisas geológicas de terras-raras terminam em março, diz MbAC |
Exploração dos novos elementos encontrados na cidade é debatida na Câmara. |
Da Redação/Jorge Mourão - A exploração das terras-raras foi um dos principais pontos de debate na reunião ordinária da Câmara Municipal de Araxá, nesta terça-feira (28). A empresa canadense MbAC já confirmou a conclusão das pesquisas geológicas para março próximo e em seguida vai requerer ao Departamento Nacional de Exploração Mineral (DNPM) o direito de exploração da área próxima à Estância do Barreiro e às minas da Vale Fertilizantes e Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM).
Na abertura do debate via tribuna, o vice-presidente da Câmara, Juninho da Farmácia (DEM), disse que é totalmente contrário à exploração dos elementos raros pelo fato de Araxá ter identidade com o Barreiro. “Foi onde a cidade começou e não podemos perder isso. Já perdemos a Cascatinha, perdemos as águas minerais, hoje a Fonte Dona Beja está escassa, e temos problemas na água sulfurosa por causa da concentração de urânio”, afirmou.
Para ele, a instalação de mais uma mineradora em Araxá, além da CBMM e da Vale, é sinal mais danificação ao meio ambiente. “Todos esses elementos descoberto têm alta toxidade, vemos isso com muita preocupação, lutamos contra, somos a favor dos ambientalistas e queremos abraçar a causa”, disse.
O democrata acrescenta que Araxá tem uma das maiores rendas per capita do Estado e um dos menores índices de desemprego. “Não temos a necessidade de trazer uma empresa que vai trazer danos à saúde, e por outro lado ao ponto turístico que é o Barreiro. Se perdermos o Grande Hotel, perderemos totalmente o turismo, é o único que restou. Passaremos a ser uma cidade somente mineradora. Somos responsáveis pelo Araxá de hoje e pelo Araxá de amanhã, a cidade ainda não está acordada com o que está para acontecer.”
E falando em ambientalistas, duas representantes da comunidade Salve Araxá (criada no Facebook e atualmente está com 110 seguidores) acompanharam a reunião da Câmara, com cartazes afixados na entrada da Casa Legislativa, camisetas de protesto e capacetes iguais aos utilizados em mineradoras. Para Nathaly Montandon, o assunto de terras-raras soa como piada.
“Ainda mais em um local que está completamente destruído. Queremos fiscalização e o que foi destruído nesses 50 anos (área já foi explorada anteriormente) seja revitalizado e entregue à nossa população. Falar em terras-raras em uma cidade como Araxá, eu acho impossível”, alegou.
Curiosamente, somente vereadores de oposição ao governo, exceto Mateus Vaz de Resende (DEM), receberam uma fita verde em alusão ao Salve Araxá. Para o governista Garrado (PR), ainda é muito cedo para criar alardes. “Acho estranho, elas (as ambientalistas) chegarem e colocarem o símbolo verde somente no peito da oposição, mas tudo bem. Sobre a questão das terras-raras, é um assunto que está sendo debatido, assistimos uma palestra recentemente, e ainda é muito precipitado falar em alguma coisa”, afirmou.
“A nossa cidade tem 10 dos 17 elementos que compõem as terras-raras, é uma coisa que está sendo pesquisada, vai ter um processo de votação e estrutura para os testes. As nossas terras são ricas em minerais, e se existe a exploração da CBMM e da Vale, são explorações que mexem com a terras, são nossas riquezas. Nossa terra é radioativa, é natural do nosso solo”, disse
Ele acredita que caso as terras-raras sejam exploradas a atividade turística do Barreiro não será comprometida. “Estão sonhando para um futuro que não existe, é muito precoce. É um processo muito lento, não é que vai acabar com tudo, temos a Vale que joga o seu rejeito onde pode ser retirado as terras-raras, não é assim que vai acabar com o Barreiro. Tinham que ter pensado na construção da indústria de ácido sulfúrico, já temos e convivemos que é das piores coisas que existem, o que vier daqui para a frente não é de assustar. O que era para assustar simplesmente aceitaram e ficaram calados, mas está aí, é claro que brigamos pelo meio ambiente, mas as terras-raras são vendidas em gramas, quilos, não são vendidas em toneladas como outros minérios. É coisa rara mesmo.”
Sobre as terras-raras no Brasil e em Araxá
As terras-raras são um conjunto de 17 elementos químicos que, diferentemente do que o nome pelo qual ficaram conhecidas sugere, não são tão raras. Sua incidência é, por exemplo, mais comum do que a de ouro. O Brasil, que hoje tem reservas que respondem por menos de 1% da produção mundial, pretende, até 2013, participar deste mercado com uma representatividade maior.
Além da busca individual da iniciativa privada, o governo vai investir em campanhas de mapeamento geológico. Estima-se que o segmento de terras-raras movimente US$ 5 bilhões anualmente, cifra que deverá aumentar consideravelmente nos próximos anos com a corrida pelos elementos de terras-raras que ocorre em todo o mundo.
Essa busca por novas reservas ocorre porque parte das terras-raras são insubstituíveis. O európio (EU), quando transformado em óxido, é utilizado na formação do fósforo vermelho, utilizado no cinescópio dos televisores de tela plana, e não se conhece outra substância capaz de exercer a mesma função. O neodímio, outro elemento químico que faz parte das terras raras, é utilizado para a produção de discos rígidos de computadores, por exemplo.
O projeto da MbAC já está disponível no site da companhia, inclusive com a localização da área. Conforme as informações do site, foi detectada a presença de nióbio e terras-raras durante a exploração de carbonatito para fosfato. A ocorrência dos minerais ocorre em um raio de 70 a 80 hectares.
A empresa não informou qual dos 17 elementos classificados como terras-raras foi encontrado em Araxá. Via assessoria de imprensa, a MbAC informou que a descoberta das terras-raras é muito recente, sendo ainda cedo para dimensionar o valor do investimento exigido e a previsão de início da aplicação dos recursos financeiros.
Um programa do governo federal, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), vai injetar R$ 18,5 milhões para realizar o mapeamento geológico do país em busca de novos depósitos de minerais de terras-raras.
A escalada nos preços pode viabilizar a produção em reservas consideradas inviáveis economicamente no passado. O desembolso do governo será realizado via Serviço Geológico do Brasil (CPRM).
Este ano serão R$ 2,3 milhões na primeira fase do projeto, que já foi iniciada. Nesta fase, os técnicos do CPRM estão compilando dados, analisando mapas e identificando novas áreas potenciais. A previsão é de conclusão dos trabalhos em 2014, quando todo o país estará mapeado, segundo a coordenadora nacional do projeto, Lucy Takehara Chemale.
Com Hoje em Dia
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