Como a água é um bem fundamental para a vida do ser humano e todo o seu ambiente, temos que criar a consciência de que é um bem finito e que tem que se usado com inteligência e responsabilidade” – Aldo Rebouças (1937-2011
As cinzas serão mergulhadas nas águas do mar para onde correm todos os rios. Uma nobre homenagem ao professor Aldo Rebouças, que morreu dia 18 de abril, segunda-feira, aos 73 anos, em São Paulo, cidade na qual vivia desde o convite para trazer seu conhecimento à USP, na década de 1970.Cearense de Peixe Gordo, se formou em geologia pela Universidade Federal de Pernambuco, em Recife, em 1962. Fez mestrado e doutorado pela Universite de Strasbourg, na França. E pós-doutorado pela Stanford University, nos Estados Unidos.
Muito antes de as preocupações sobre a escassez e tratamento das águas chegarem às autoridades e aos meios de comunicação, Aldo Rebouças já usava sua voz firme e discurso sincero para alertar o mundo sobre como estas questões afetariam a qualidade da oferta do produto.
Criticava duramente a ideia de que a água era abundante, inesgotável e gratuita. Uma falácia que, sabia bem, acabaria por levar ao uso desregrado e impróprio deste recurso que, atualmente, falta para ao menos um bilhão de pessoas e causa a morte de mais alguns milhares pelo Planeta.
Rebouças, este sim, era uma fonte abundante, inesgotável e gratuita de informação.
Entrevistei-o pela primeira vez na época em que trabalhei na TV Cultura, nos anos 90, quando o assunto ganhava espaço na agenda jornalística. Sempre se apresentava no estúdio com documentos e registros que respaldavam suas teses.
Nunca mais perdi seu contato e sempre explorei da capacidade – e paciência – dele para explicar ao público como era possível, por exemplo, a cidade de São Paulo ficar embaixo d’água no verão e sofrer com sua escassez no inverno.
Ensinava que o problema daqui – assim como do restante do Brasil – era a má gestão dos recursos hídricos.
A cidade é contemplada com dois grandes rios, Tietê e Pinheiros, mais uma centena de rios menores e córregos que cortam nossa geografia. Temos, ainda, duas enormes represas, Billings e Guarapiranga. Por outro lado, decidimos ocupar suas várzeas, retificamos seus leitos, encobrimos seus vãos e os transformamos em impressionantes latas de lixo.
Não bastasse isso, consumimos mais do que o recomendado. Hoje, somos perto de 15 milhões de pessoas morando neste ambiente urbano consumindo, em média, 80 litros de água para as necessidades domésticas, todos os dias. Apesar da aparente oferta, somos obrigados a “importar” o recurso de Minas Gerais, pois nossos mananciais não dão mais conta do recado. Também se perde parte da água tratada no caminho das casas, por falta de manutenção das redes públicas.
Professor Rebouças sempre denunciou este cenário. Mas fez muito mais.
Ele próprio diz que sua maior contribuição foi descrever o aquífero Guarani, um manancial de água doce subterrânea que se estende por 1,2 milhão de km2 pelo Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. Até seus estudos, a hidrografia reconhecia apenas uma parcela desta água, no aquífero Botucatu.
Colocaria em seu legado, também, o ensinamento que transmitiu a uma legião de jornalistas que o procurava na busca do seu conhecimento. Aldo Rebouças nos atendia sempre e falava de forma didática, sem meias palavras, com linguajar próximo do público. Às vezes, se estendia nas respostas, além do que o tempo do rádio permitia, pois não queria perder a oportunidade de catequizar o cidadão sobre a questão das águas. Respeitosamente, o ouvia até a última palavra.
Há alguns anos, ao procurá-lo fiquei sabendo que sofria de Parkison e estava com dificuldade para falar. Nesta semana, com muita tristeza, recebi a notícia da morte dele por falência respiratória.
A missão de Aldo Rebouças, porém, não se encerrou. Seus ensinamentos contaminaram uma quantidade enorme de pesquisadores, estudiosos e cidadãos. Cabe a estes, agora, levar a frente a ideia da proteção dos recursos hídricos – nesta que seria a mais significativa de todas as homenagens ao Doutor das Águas
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