Autor/Fonte: Fernando Luiz Zancan*
O papel dos combustíveis fósseis no Século XXI e o Brasil
Cerca de 40% de energia elétrica será gerada pelo carvão mineral, que é abundante e barato no mundo; não sofre com turbulências geopolíticas; e deverá continuar crescendo em ritmo superior a de seus concorrentes fósseisNo dia 27 de junho, no Auditório Petrônio Portela no Senado Federal, tivemos uma oportunidade única de debater, com importantes autoridades internacionais e brasileiras, o papel dos combustíveis fosseis no século XXI, seus desafios e oportunidades.O seminário internacional, realizado pela Comissão de Serviços de Infra-estrutura do Senado Federal – com a participação da Comissão de Minas Energia da Câmara dos Deputados e com o apoio da Eletrobrás, Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM) e Agência Internacional de Energia (IEA) – mostrou que nas próximas décadas, o mundo não terá substitutos para os combustíveis fósseis, que hoje representam aproximadamente 85% da oferta de energia. Cerca de 40% de energia elétrica continuará sendo gerada pelo carvão mineral, que é um combustível abundante e barato no mundo; não sofre com as turbulências geopolíticas; não está concentrado nas mãos de poucos e deverá continuar crescendo em ritmo superior ao dos seus concorrentes fósseis. O mundo sofre, como nunca, com as tensões geopolíticas na área energética e, se não buscarmos alternativas, a concentração do petróleo nas mãos da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) poderá chegar a 50%. No gás, a concentração da produção e reservas sob o domínio de quatro países (Rússia, Iran, Qatar e Commonwealth of Independent States - CIS) tende a crescer. E, com o aumento de demanda, ocorre a tensão nos preços e na segurança energética, principalmente dos países dependentes desses dois combustíveis. Novos patamares de preços do petróleo e do gás natural são uma realidade e – junto com a necessidade de obterem combustíveis (ou segurança energética) - estão levando o mundo a buscar primeiramente o menor consumo de energia (eficiência energética) e, depois, alternativas de produção de fontes domésticas, onde se incluem as renováveis (como, eólica, solar, biocombustível e hidráulica) e os fósseis – cujo carvão é o principal.De acordo com dados do BP Statiscal Review 2007, a demanda de carvão cresceu 24,1% entre 2000 e 2005, enquanto a do gás teve 13% no mesmo período. Este crescimento do carvão se deve, basicamente, a países em desenvolvimento com altos índices de aumento de demanda de energia e que tem no carvão sua maior fonte de energia doméstica como, por exemplo, a China e a Índia. No entanto, é notório que nos países desenvolvidos o crescimento da demanda de energia – que não é tão grande como nos países em desenvolvimento – aliado a revitalização do seu parque de geração de energia levará a Europa, por exemplo, a investir em 550 GW até 2030.Há várias vertentes para esta renovação, como a energia nuclear – que encontra oposição em vários países, como Alemanha e Itália – e as renováveis, com seus custos elevados e energia intermitente. Além destas, temos as fósseis, como o gás natural e o carvão. Apesar de afirmarem que no Brasil o uso do carvão está na contramão da história, os números de novas unidades a carvão sendo projetadas e construídas na Europa é significativo. O carvão, então, deixou de ser o patinho feio no momento em que a necessidade e o pragmatismo vêm à tona, num cenário energético estressado como o atual.Como foi dito no seminário, todas as formas de energia têm seus impactos econômicos e ambientais. O desafio, então, é reduzi-los. No que tange aos fósseis, o objetivo é diminuir suas emissões – que vêm ocorrendo há décadas – com o fim das chuvas ácidas, com a redução de particulados e, agora, com a busca na eliminação de CO2, tanto na cadeia do petróleo, quanto na de gás e no carvão. Ainda no seminário, ficou claro o elevado investimento em tecnologia feita pela indústria do petróleo, gás e carvão para realizar a captura e o seqüestro geológico do dióxido de carbono. Tecnologia esta que deverá ser comercializada nos próximos 15 anos. Conhecidas como “carvão limpo”, essas tecnologias incluem o aumento de eficiência das plantas a carvão – na Alemanha há eficiências de 47% - e tecnologias como gaseificação em ciclo combinado e combustão com injeção de oxigênio, com plantas de demonstração já em construção, permitirão alcançar uma redução de cerca de 90% do CO2 emitido.O que isso tem a ver com o Brasil? O seminário trouxe reflexões sobre a única certeza que temos: o clima do mundo está mudando. E isso impactará no regime hidrológico brasileiro e, com certeza, afetará os nossos modelos estatísticos de previsão de despacho do nosso sistema hidrotérmico. Tratando-se de energia, o planejamento e a visão de longo prazo são fundamentais. O risco de estarmos baseados em uma só fonte, a hidráulica, em um momento de incerteza climática nos faz refletir quais políticas públicas devem ser feitas para garantir a nossa segurança energética. O efeito Argentina – que hoje passa por uma grave crise energética e que afeta tanto o Uruguai como o Chile e que tem no parque térmico brasileiro a sua salvação – deve ser refletido por nossos planejadores energéticos. O seminário não encerrou no dia 27 de junho. Suas informações e mensagens – principalmente aquelas citadas pelos nossos legisladores, presidentes da Comissão de Serviços de Infra-estrutura do Senado Federal e da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados – permanecerão como contribuição para que o Brasil tenha uma matriz energética equilibrada, ambientalmente aceitável e compatível com a realidade econômica de um país que precisa se desenvolver para dar uma melhor condição de vida para seus cidadãos.
*Fernando Luiz Zancan é presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral
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